quarta-feira, 27 de junho de 2012

Morreu o sr. Mendes Pinto

Conheci o sr. Mendes Pinto por intermédio de amigos comuns. Andava no Grupo de Jovens de S. João de Ovar, grupo por quem o sr. Mendes Pinto se apaixonou, desde a primeira hora. Talvez pela nossa irreverência. Talvez pela nossa fé, pela nossa união, pelo nosso dinamismo. O sr. Mendes Pinto foi ficando por lá, participava nas reuniões, deu-nos a conhecer as Irmãs Clarissas, o franciscanismo. Foi responsável pela forma como vivi, em grande parte, a minha fé. Alturas tantas era ele o grande entusiasta, o grande jovem no meio de todos aqueles jovens. Sempre acreditou nos nossos talentos, alimentava-os, fazia-os crescer. Nesse tempo, o grupo produziu vários "espetáculos" e o sr. Mendes Pinto foi a raiz de todos eles: Opereta Irmã Clara e Pai Francisco; Os Amigos de Cristo; Santo António.

Fotografava tudo, escrevia, fazia os cartazes, as roupas, vivia tudo aquilo com entusiasmo e (agora falo por mim) sentia-me capaz, sentia-me importante, porque ele fazia-me sentir assim. Acreditou em mim, no que eu conseguiria fazer, depositava a sua confiança total e, no fim, elogiava, elogiava como se tivesse assistido ao maior espetáculo de todos os tempos! E era, era sim, sr. Mendes, o maior espetáculo de todos os tempos: o espetáculo da amizade pura, sincera, aberta, disponível.

Esteve presente em momentos muito importantes da minha vida, tinha uma preocupação paternal em relação aos meus movimentos e minhas escolhas. Interessava-se, com aquele interesse genuino que os pais nutrem pelos filhos. E admirava tudo o que eu fazia. E eu sentia-me importante.

Nem sempre estivemos de acordo. Alturas houve em que até nos aborrecemos um com o outro. Mas a amizade, de tão grande, sobreviveu a tudo.

O sr. Mendes Pinto, mal soube, partilhou comigo o seu estado de saúde. E apesar de dois técnicos de saúde me terem confidenciado que a sua situação era muito grave e a sua vida se aproximava do fim, não quis acreditar. Não podia ser, há enganos, os médicos também se enganam, não é? Não, não se enganaram. Mas há milagres, não há? Sim, há milagres! E então agarrei-me a essa ideia, certa de que, mesmo que não houvesse o milagre da cura, haveria, por certo, o milagre do tempo, a entregar-se com maior generosidade do que aquele que os médicos previam.

Visitei-o e ele, sempre generoso nas suas palavras e atos, dizia: "senti-me um pouco melhor depois da tua visita e da visita da Branca!" Seguiram-se outras visitas mas, na última, descansava e eu não o quis acordar.

Sei que está feliz, só inquieto por causa dos seus familiares e amigos, muito em particular por causa da sua esposa. Ficamos todos bem, acredite. É essa a última prenda que lhe podemos oferecer: a garantia de que ficamos todos serenos, continuando esta caminhada em direção à Luz que o sr. Mendes acabou de alcançar.

Um abraço. A minha vida teria sido muito diferente se não nos tivessemos cruzado. Sinto-me grata. Até logo!