quinta-feira, 13 de dezembro de 2012

The day after

A 19 dias do final do ano.

Ontem, e porque era dia 12.12.12, escrevi vários emails para algumas das pessoas mais importantes da minha vida ou que, de alguma maneira, marcaram, em algum momento, o meu percurso. O teor de cada email era, obviamente, diferente mas o "assunto" era o mesmo: 12.12.12.

Hoje, nos items recebidos, tenho imensos 12.12.12! Está tão lindo o meu email que tenho pena de apagar...

Mudando de assunto: para muito profetas da desgraça (como se fosse preciso mais drama nas vidas), ontem era um dos muitos dias apontados como sendo o último. Vai daí, família toda no carro e ala para restaurante que isto de ser o fim do mundo não é todos os dias (embora pareça que sim). Bebemos bem, comemos melhor e agora, que o mundo não acabou, quero saber quem vai pagar a conta! É que, não sabendo o que se encontra do lado de lá, queríamos ir refeitinhos... mas agora há uma conta para pagar... nunca mais me fio nesta malta!

Mudando, mais uma vez, de assunto: a nossa árvore de Natal já está feita há muito tempo mas só hoje é que a vou partilhar com vocês. Ficou linda. Adoro esta época do ano. E assim mesmo, cinzenta!

quarta-feira, 12 de dezembro de 2012

12.12.12

A velhice é lixada, para não escrever já uma palavra feia. Em 2001 também houve um 1.1.1, em 2002 igual e assim por diante. Mas só hoje é que isto me está a bater largo... cum caraças!
Será porque são três dúzias? Será porque tomei consciência de que já cá não estou quando for o próximo 1.1.1? Ou será porque estou mesmo a ficar choné?

Tá quase!

A 20 dias do final do ano.

Mal posso esperar. Os nossos políticos disseram que este ano é que era o pior de todos e, por isso, faltam 20 dias para acabar este tormento. Dobrámos todos o Cabo das Tormentas, estamos todos de parabéns. Daqui a 20 dias jamais se falará em crise. Sim, porque os nossos políticos nunca mentem, certo? Mal posso esperar para começar a ver outras coisinhas publicadas nos jornais!

terça-feira, 9 de outubro de 2012

Vale a pena pensar nisto

A 84 dias do final do ano.

Eu, a filha mais velha e uma crise existencial.

Eu - Estou na idade em que devia estar a produzir e não estou a produzir nada!
Ela - Estás sim! Estás a produzir sorrisos em nós!

Parabéns, minha papoilinha

A 84 dias do final do ano.

Hoje a minha filha mais nova faz anos. Foi, tal como a primeira, uma filha muito desejada. E as minhas palavras, hoje, são inteirinhas para ela.

Obrigada por teres vindo agitar o meu mundo. Obrigada por, com as tuas atitudes, pores-me a pensar que o que eu acho que está certo pode estar errado. Obrigada pelo teu sorriso, pelos teus carinhos. Desejo, meu amor, que nunca ninguém te roube essa tua alegria e desculpa por, de vez em quando, ser mesmo eu a primeira a roubá-la. Acho que estudar é importante, que em primeiro lugar está o trabalho e tu dizes-me constantemente que não, que não é assim. Que primeiro está a brincadeira, está o afeto, está a alegria, está a diversão, estão os mimos, os beijinhos, a família, os amigos. Talvez estejas certa, dá-me só mais um bocadinho de tempo para respeitar mais a tua perspectiva, pode ser?

segunda-feira, 3 de setembro de 2012

Mais uma da mais nova

A 120 dias do final do ano.

No sábado fomos à Quinta de Santo Inácio. Vamos lá quase todos os anos e nunca nos cansamos, porque há sempre novidades. Almoçamos por lá, em muito boa companhia, assistimos ao espetáculo das aves, depois à alimentação dos pinguins, visitamos a savana (que ainda não existia da última vez que lá fomos) e o dia terminou em casa da minha mãe, a petiscar. Com isto tudo, chegamos a casa já era muito tarde. Disse eu, na expectativa de que alguém completasse o provérbio: "se maior era o dia...". Respondeu a mais nova "nem sabe o bem que lhe fazia!"

Há homenagem mais bonita?

No outro dia fomos dar uma caminhada. A mais nova preferiu ir de bicicleta e numa manobra mais complicada, estatelou-se no chão. No mesmo instante levantou-se, sacudiu a roupa e os joelhos e montou-se novamente na bicicleta. À medida que ia pedalando, gritava aos quatro ventos: vês, mãe, fiz como a Clarisse Cruz! Caí mas levantei-me logo e comecei a andar!

quinta-feira, 26 de julho de 2012

Dia dos avós

A 159 dias do final do ano.

Hoje é Dia dos Avós. Eu não conheci os meus avós maternos e apenas me lembro bem do meu avó paterno. Da minha avó paterna não tenho a certeza se me lembro. Recordo-a deitada numa cama, mas não me lembro do rosto, só da situação, de alguma tristeza envolvida nesta cena, de um quarto sem muita luz... mas não sei se realmente aconteceu.

Do meu avô paterno lembro-me bem, já era adulta quando ele partiu. Era um homem com uma figura austera, estranhava quando chegávamos os lábios perto da sua face para um beijo. Estendia sempre a mão primeiro, mas nós insistíamos no beijo. Tinha o cabelinho lindo, todo branquinho, branquinho. Às vezes nós íamos visitá-lo, outras vezes vinha ele aqui a Ovar. Vinha de comboio e mal chegava a nossa casa, sacava do relógio de bolso e via as horas. Não se queria atrasar, porque os comboios não esperam por ninguém. Lembro-me de me ter ido comprar rebuçados à mercearia e como eu amei aquele curto passeio! De mão dada com o meu avô, rua fora, ele tão lindo e imponente, apetecia-me gritar: é o meu avô!

Lembro-me que, uma vez, numa dessas visitas, apanhou boleia de uma vizinha. Que susto! Uma mulher ao volante, a conduzir um carro! Meu Deus, que loucura! Ele foi sempre muito colado à cadeira e mal o carro abrandou, pernas para que te quero!

A minha tia Rosinha não era minha avó, era minha tia, mas fazia as vezes de uma avó. Era muito querida e bastava eu abrir a boca para fazer os paparicos todos. Estragava-me com mimos, com cuidados. Um beijo muito grande para todos os avós, os que conheci e os que não conheci, e um beijo para a minha tia Rosinha, que se comportava como as avós se comportam.

As minhas filhas têm muita sorte. Têm os quatro avós sempre presentes. E lindos, lindos de morrer. Cada um com o seu feitio, mas todos amáveis e carinhosos, prestáveis e preocupados. Hoje, as minhas filhas, não sabem a sorte que têm, mas um dia vão saber que estes tempos são mesmo muito felizes. Este tempo em que todos marcam presença em todas as festas, com saúde e cara alegre. E onde há sempre vozes a defender todas as asneiras, todos os disparates: "são crianças, deixa-as lá"!

Obrigada aos avós das minhas filhas por marcarem a infância e adolescência delas. Vocês são lindos e, parafraseando um apresentador de televisão, "sem vocês isto não era a mesma coisa".

segunda-feira, 16 de julho de 2012

Medo

A 169 dias do final do ano.

Não gosto de conduzir. Automóveis, entenda-se bem. Em outras matérias, gosto de conduzir: conversas, alguns trabalhos... mas de conduzir um carro não gosto. Aqui no burgo, não tenho problemas, mas ir para mais longe dá-me logo suores, insónias, é um pânico. Na semana passada tive que ir todos os dias a Aveiro. Maridão ensinou caminho e, portanto, aparentemente, estava tudo em ordem. Mas não é que a via entrou em obras? Pois eu mal vi aquela sinalética toda comecei a hiperventilar. E agora? Por onde é que eu vou? Felizmente que deu sempre para sair no mesmo sítio, apesar dos desvios. Mas por que é que isto me põe doente? Já fiz milhares de quilómetros, à conta de trabalhar no "Norte Desportivo", mas a situação era sempre a mesma. Fico mais em pânico quando circulo em A-qualquer-coisa. Não se pode parar, não se pode fazer inversão de marcha, enganas-te na saída e estás tramado. Não há um senhor Manuel ou uma senhora Maria a quem perguntar como se vai para Rilhafoles de Baixo, não há uma berma que te permita pôr a cabeça no lugar, enfim, um caos.

Já me disseram que uma regressão podia descobrir de onde vem esta angústia. Mas já me disseram também que a regressão só pode, eventualmente, descobrir, não pode tratar. Ou seja, eu fico a saber que não gosto de conduzir porque numa vida anterior matei o gato da vizinha, mas o medo continua lá.

É uma coisa completamente irracional, nunca bati em nada nem em ninguém (minto, a parede do lugar de garagem já sofreu alguns encontrões mas isso é porque ela se encolhe). Já me bateram no carro, mas não aconteceu nada de dramático, foi só chapa e já bateram num carro onde eu ia, mas também foi mais o susto que outra coisa qualquer. E este medo é anterior a todas estas experiências. Como se soluciona? Alguém sabe?

quarta-feira, 27 de junho de 2012

Morreu o sr. Mendes Pinto

Conheci o sr. Mendes Pinto por intermédio de amigos comuns. Andava no Grupo de Jovens de S. João de Ovar, grupo por quem o sr. Mendes Pinto se apaixonou, desde a primeira hora. Talvez pela nossa irreverência. Talvez pela nossa fé, pela nossa união, pelo nosso dinamismo. O sr. Mendes Pinto foi ficando por lá, participava nas reuniões, deu-nos a conhecer as Irmãs Clarissas, o franciscanismo. Foi responsável pela forma como vivi, em grande parte, a minha fé. Alturas tantas era ele o grande entusiasta, o grande jovem no meio de todos aqueles jovens. Sempre acreditou nos nossos talentos, alimentava-os, fazia-os crescer. Nesse tempo, o grupo produziu vários "espetáculos" e o sr. Mendes Pinto foi a raiz de todos eles: Opereta Irmã Clara e Pai Francisco; Os Amigos de Cristo; Santo António.

Fotografava tudo, escrevia, fazia os cartazes, as roupas, vivia tudo aquilo com entusiasmo e (agora falo por mim) sentia-me capaz, sentia-me importante, porque ele fazia-me sentir assim. Acreditou em mim, no que eu conseguiria fazer, depositava a sua confiança total e, no fim, elogiava, elogiava como se tivesse assistido ao maior espetáculo de todos os tempos! E era, era sim, sr. Mendes, o maior espetáculo de todos os tempos: o espetáculo da amizade pura, sincera, aberta, disponível.

Esteve presente em momentos muito importantes da minha vida, tinha uma preocupação paternal em relação aos meus movimentos e minhas escolhas. Interessava-se, com aquele interesse genuino que os pais nutrem pelos filhos. E admirava tudo o que eu fazia. E eu sentia-me importante.

Nem sempre estivemos de acordo. Alturas houve em que até nos aborrecemos um com o outro. Mas a amizade, de tão grande, sobreviveu a tudo.

O sr. Mendes Pinto, mal soube, partilhou comigo o seu estado de saúde. E apesar de dois técnicos de saúde me terem confidenciado que a sua situação era muito grave e a sua vida se aproximava do fim, não quis acreditar. Não podia ser, há enganos, os médicos também se enganam, não é? Não, não se enganaram. Mas há milagres, não há? Sim, há milagres! E então agarrei-me a essa ideia, certa de que, mesmo que não houvesse o milagre da cura, haveria, por certo, o milagre do tempo, a entregar-se com maior generosidade do que aquele que os médicos previam.

Visitei-o e ele, sempre generoso nas suas palavras e atos, dizia: "senti-me um pouco melhor depois da tua visita e da visita da Branca!" Seguiram-se outras visitas mas, na última, descansava e eu não o quis acordar.

Sei que está feliz, só inquieto por causa dos seus familiares e amigos, muito em particular por causa da sua esposa. Ficamos todos bem, acredite. É essa a última prenda que lhe podemos oferecer: a garantia de que ficamos todos serenos, continuando esta caminhada em direção à Luz que o sr. Mendes acabou de alcançar.

Um abraço. A minha vida teria sido muito diferente se não nos tivessemos cruzado. Sinto-me grata. Até logo!

segunda-feira, 28 de maio de 2012

A 218 dias do final do ano.

Onde vou estar no próximo fim de semana. Encontramo-nos por lá?

quinta-feira, 24 de maio de 2012

Viagem ao passado

A 222 dias do final do ano.

Ontem, a Junta de Freguesia de Ovar descerrou, no Cais da Ribeira, um painel de azulejos elaborado pelo Marcos Muge com a ajuda do Dr. Alberto Lamy. Fica assim perpetuada a visita de D. Maria II a Ovar, há 160 anos atrás. O Dr. Alberto Lamy, numa curta intervenção, levou-nos numa viagem a esse longinquo ano de 1852. Adoro estas viagens e embarquei com todo o gosto. Consegui ouvir a agitação no cais, o casco dos cavalos a bater no chão e partilhei a excitação que invadia os vareiros nesses dias 22 e 23 de Maio. Contou o Dr. Alberto Lamy que a rainha veio à varanda dos Paços do Concelho com o seu marido e os seus dois filhos, D. Pedro V e D. Luís, para assistir à festa que se espalhava na rua. Estando os seus filhos a gozar com os chapeirões usados pelas mulheres de Ovar, D. Maria II não vai de modas e lança dois tabefes na cara dos jovenzinhos, mesmo ali, à frente de toda a gente. Mai nada! Se houvesse mais D. Maria II, de certeza que não havia tanta falta de educação e respeito.

A cerimónia foi simples, mas muito digna. Parabéns ao Marcos Muge, ao Dr. Alberto Lamy e à Junta de Ovar, sempre recetiva a abraçar este tipo de projetos.

quinta-feira, 19 de abril de 2012

Tantos com tanto, tantos com nada

A 257 dias do final do ano.

Há coisas de partir o coração. Uma escola, um desentendimento entre dois garotos, um murro dado num vidro, um vidro partido, uma mão, pequenina, a sangrar. A auxiliar de ação educativa diz ao garoto para ir lavar a mão e, ao mesmo tempo, fala-lhe com carinho: "eu avisei-te X, para não andares à bulha, olha no que deu! Para além de partires o vidro, magoaste-te na mão!" O menino - ali parece um menino, incapaz de fazer mal a uma mosca - diz qualquer coisa que não se percebe. A funcionária começa a fazer-lhe o curativo: desinfeta, põe betadine, prepara a gaze. O menino não diz um ai, parece até que o curativo é uma espécie de mimo... e é. A funcionária diz-lhe para voltar no dia seguinte, sabendo que ninguém vai tratar daquela ferida até ao dia seguinte. Nem daquela, nem de outras. A família - se se pode chamar família a um grupo de pessoas sem laços que vive numa casa - é completamente destruturada. Conta a funcionária, já depois do menino sair, que no aniversário dele, foi ela e a outra colega que lhe deram dinheiro para ele ir comprar um bolo e um sumo ao bar da escola. Conta-me também como ele ficou encantado com aquele presente! No dia seguinte confidenciou às funcionárias o que elas já tinham previsto: em casa não havia bolo nem nenhum sinal de festa. Nem um carinho para se fazer, nem um beijo para se dar.
Uns com tanto e tão ingratos, outros com tão pouco. Besta de mundo, este.

quarta-feira, 11 de abril de 2012

Crise de independência

A 265 dias do final do ano.

- Mãe, a que idade é que nos vais pôr fora de casa?
- Eu nunca vos vou pôr fora de casa! Mas vai chegar uma altura em que vocês vão querer ter o vosso canto...
- Mas eu já tenho o meu canto aqui em casa.
- Sim, mas vais querer ter uma família...
- Eu já tenho uma família, é esta, por isso não preciso de sair de casa!

quarta-feira, 14 de março de 2012

Uma cena bué de fora

A 293 dias do final do ano.

O chato de se ser mãe é ter que educar. Ser a amigalhaça, a modernaça, é, em contrapartida, o melhor da festa. Passar um serão a experimentar vernizes e a colar-lhes florinhas por cima, inventar penteados, ouvir confidências, andar às compras para estar sempre na moda, aprender o calão em vigor é bué de bué! Deitar conversa fora, rejuvenescer com as histórias que contam e repetem, colar um piercing no nariz só para ver qual é a sensação é cool! Porque é que depois tem que vir a parte cortes? Porque é que tem que haver esta cena, bué de fora, de ter que estar sempre a insistir para que comam a sopa e legumes, para que estudem e se comportem, para que se levantem a horas de ir para a escola?
Estas cenas, uma beca de maradas, perturbam a relação mãe-filha. Festa é o que está a dar! As chatices que se evitam se se for uma mãe amigalhaça: é igual se as crias chegam ou não atrasadas à escola(sem stress, acabam por chegar sempre a tempo de qualquer coisa, há aulas até tarde, dahhhh); se as crias se portam mal na escola, a culpa é dos professores que não têm pulso nelas, são demasiado permissivos (as mães, por acaso, não, é pão numa mão e bolo na outra); se em vez de comerem sopa preferirem gomas e chocolates, no problem, há que aproveitar enquanto não têm problemas de saúde; se não querem estudar, é porque os professores não as motivam (e toca mas é de ver a novela das cinco, que já se está a fazer tarde).
As que andam sempre em cima ficam velhas. Quando os filhos têm testes, ficam nervosas. Enquanto esperam pelos resultados dos testes, ficam nervosas. Não comem de jeito porque estão sempre a tentar que os filhos comam o que devem. Correm como se não houvesse amanhã, para estarem à porta das escolas antes dos filhos sairem. Estudam que se fartam para relembrar as matérias que já ficaram esquecidas e assim poderem acompanhar melhor os estudos dos filhos. Lêem os livros sobre os quais os filhos têm que fazer fichas de leitura, para se certificarem que estas ficam bem feitas. E depois vem a parte que mais mói. Quando há deslizes, há que repreender, uma e outra vez, até chegar ao castigo. Os pais de outrora, não se maçavam muito. Pouco imaginativos, era galheta para qualquer asneira e pronto. Agora não se bate nos meninos e há que usar a imaginação. Para cada erro, cada castigo. Dá trabalho estar a pensar em vários castigos.
Eu, por exemplo, estou a ficar sem recursos. E os dois últimos que apliquei acho que me causaram mais danos a mim do que à castigada.

sábado, 10 de março de 2012

Festival da Canção

A 296 dias do final do ano.

Quando liguei a televisão e vi que estava a dar o Festival da Canção, não pude deixar de recordar o que isto era há algumas décadas atrás. Há algumas décadas atrás, não muitas, isto era motivo para formigueiro na barriga. O serão era planeado em função deste evento, de envergadura nacional. Só para dar uma ideia mais concreta, lembro-me de ter assistido a um destes festivais num café, juntamente com os meus pais, irmã e uma família vizinha. Viemos todos para "O Trem", situado onde se encontra ainda hoje, no largo da estação. Os adultos mandaram vir uns petiscos e ali ficaram, olhos pregados no écran, a assistir e a comentar a cada motivmento. Nós, os mais pequenos, respeitávamos a seriedade da coisa, mas ninguém se importava que não fossemos assim, tão ferverosos devotos. Por isso, eram-nos permitidas umas escapadelas. E para onde íamos nós brincar? Para a estação de combóios, lugar seguríssimo, onde parecia, na verdade, não haver ponta de perigo a espreitar. Brincávamos a saltar nas pedras escuras da calçada, fintando, a custo, as muitas pedras brancas. Meia volta, íamos ao café ver como estavam os ânimos, cada vez mais exaltados, à medida que o programa ia avançando. Das mesas saltavam os nomes dos favoritos, nervos à flor da pele e petiscos no bucho, que, como toda a gente sabe, nervos e comida são grandes aliados. No final, a contragosto, lá se aceitava a decisão dos jurados que votavam a partir da capital de cada distrito. Há 30 anos era assim. Hoje, estou eu aqui, no computador, o meu marido no outro computador e a minha filha mais nova aos saltinhos na sala, a dançar.
Já ninguém se reúne em torno do televisor e ninguém vai brincar para a estação de combóios. Visto assim, já não sei o que é mais estranho: se o Festival da Canção ser um evento nacional, se ser possível 3 crianças brincarem, sozinhas, à noite, numa estação de combóios.

domingo, 19 de fevereiro de 2012

Sem Carnaval à porta

A 317 dias do final do ano.

Já não me lembro quando foi a primeira vez que vi o Carnaval da minha varanda, mas lembro-me bem quando foi a última: no ano passado. O meu apartamento, como muitos outros, estava, até ao ano passado, dentro do percurso do corso carnavalesco de domingo e terça-feira.
Desconheço as razões que levaram a organização a retirar o corso carnavalesco desta rua. Recuso-me a aceitar o motivo que me chegou aos ouvidos: "havia muitos aniversários aqui, nesta altura do ano", dando a entender que esta seria a descupa que muitos usariam para entrar sem pagar dentro do recinto.
As pessoas que já tinham sido privadas deste luxo (porque há muito que o Carnaval já tinha sido retirado do centro da cidade) acham muito bem. "Se nós não podemos ver o carnaval de nossas casas, é bem feita que eles (os que moram na minha rua) também não possam!" Nobre sentimento, este. Se não há para mim, fico contente que não haja para mais ninguém. Não lucro nada com isto, mas fico contente.
Fico triste por não poder ver o carnaval da minha varanda. Era um privilégio, cuja retirada me custa a aceitar.
Mas há vantagens: deixei de ter aqui em casa, neste dia, amigos de Peniche, que só nos procuravam nesta altura do ano, arrebatados por umas inusitadas saudades. Deixei de ter estranhos em minha casa, que vinham com o amigo do amigo, amigo este de quem eu própria pouco sabia. Deixei de ficar com peso na consciência, porque tinha convidado A e não tinha convidado B e se calhar o B ficava chateado porque viu o A na minha varanda... tudo isso acabou.
Acabaram-se os carnavais, em todos os sentidos.

segunda-feira, 13 de fevereiro de 2012

Minha estrela!

A 323 dias do final do ano.

Há 13 anos atrás, não sabia o que era o amor incondicional. Sim, já amava muitas pessoas, e achava que sentia por elas um amor incondicional, mas estava enganada. E quando tu nasceste, meu amor, aí sim, senti algo que ultrapassa as palavras, que transborda o coração, que duplica as alegrias e que duplica também as tristezas e angústias. Tu ali, tão pequenininha, tão dependente de mim... eu apontava tudo no papel, medo, muito medo de falhar em alguma quantidade, em algum cuidado, em algum horário... foste crescendo, linda, muito vivaça, inteligente, a alma de uma casa, de uma família. Transformaste-nos a todos, passamos a girar à tua volta... e quando foste para a pré-escola? Ai que aperto! O que estarias a sentir, o que estarias a fazer... tive que ligar a meio da manhã, não suportava tão longa ausência, doía muito, muito. Hoje estás uma mulherzinha, mais adulta que muitos adultos. És um ser extraordinário, tens um sentido de humor próprio de quem é inteligente, és um verdadeiro encanto. Obrigada por seres como és, tão especial. Posso pedir para seres sempre assim?

segunda-feira, 23 de janeiro de 2012

Até qualquer dia

A 344 dias do final do ano.

Soube hoje que a minha tia Maria morreu. Já morreu há 12 dias mas, para mim, morreu hoje, porque só soube hoje. A minha tia vivia num lar, já há muitos anos e tinha muitas enteadas e filhos destas e netos destas. O lar tinha o contacto de uma delas e foi essa pessoa que avisou. Essa pessoa não me avisou a mim e isso agora também não interessa nada. Não posso deixar de pensar o quão pouco cuido dos idosos da família, sobretudo destes, que vivem sós.
A minha tia Maria tinha um feitio muito especial. Não tinha papas na língua, não era de beijinhos e abraços, era muito pragmática, pão-pão-queijo-queijo. Resumindo, tinha uma personalidade forte que, por isso mesmo, gerava ou admiração ou antipatias. Tinha muita graça quando contava os episódios da sua vida, a maneira como reagia às coisas. Contava que ia ao médico só para saber o que tinha, porque ela depois é que decidia que medicamentos tomar! E numa ocasião que a incentivaram a ir à piscina do lar? A muito custo, lá foi, mas quando viu que a piscina era usada também por homens, não voltou mais! "Que porcaria", dizia ela. "Estar ali na mesma água que os homens, que porcaria".
Visitei-a no Verão passado, já não me conheceu, ia muita confusão naquela cabeça. Agora vai muita confusão na minha. Descansa em paz. Dá beijos meus a todos, muito especialmente à tia Rosa e ao tio Lando, pode ser? Ainda estou em condições de te pedir alguma coisa?

quarta-feira, 11 de janeiro de 2012

Pessimismo

A 356 dias do final do ano.

Hoje acordei muito bem disposta o que, vindo de uma capricorniana de gema como eu sou, não é uma coisa muito normal. Não porque os capricornianos não possam acordar bem dispostos, mas porque sobre estes paira sempre uma nuvem de pessimismo negra, negra. Ora esta nuvem, a juntar ao céu que todos os dias nos é enfiado pelos olhos dentro de que estamos a atravessar o pior ano de sempre da história da humanidade, é uma combinação explosiva. E querem ver como sou mesmo do pior? Acordei bem disposta, como já disse, e em vez de usufruir em pleno desse estado raro, dei por mim a pensa: "mau... o que é que vai acontecer?" Não tenho emenda possível. Cinzenta como o Inverno que, por acaso este ano, está radioso e brilhante. Raios o partam.

sexta-feira, 6 de janeiro de 2012

Reis em minha casa


O ano ainda vai no início e já concretizei uma coisa que queria fazer há muito tempo. Por isso, ontem, veio aqui a casa a Trupe de Reis do Orfeão de Ovar. Para quem desconhece, o Cantar dos Reis em Ovar é uma tradição secular e única no país, que consiste no canto de três números: a Mensagem, a Saudação e o Agradecimento (despedida). O que me impressiona mais é que os textos e as músicas são, na sua esmagadora maioria, originais, o que significa que, de ano para ano, ficamos com um património cultural mais rico. Na primeira semana de Janeiro, as trupes (mais de vinte!) saem para as ruas e cantam em cafés, associações, instituições, restaurantes e em casas que fizeram esse pedido. Instala-se um ambiente de paz e harmonia, tudo parece estar em perfeita sintonia, as vozes aquecem os espaços, enfim, é uma emoção sem igual. Adorei receber esta trupe que cantou e encantou. Este momento vai, de certeza, ficar gravado na história desta casa. Obrigada a todos!

terça-feira, 3 de janeiro de 2012

Boa!

Hoje fui à padaria munida de porta moedas, contra o costume, pois costumo levar apenas o dinheiro para o pão que quero. Mas ando tão assustada com todas as notícias que vêm a público que pensei que era melhor ir com mais dinheiro. Mas, afinal, o pão não aumentou! Malta, podemos continuar a comer pãozinho ao preço de 2011. Nem tudo é mau.
Vou continuar com algumas medidas que iniciei em 2011 (isto da crise já não é novo, novo, há uma data de tempo que se houve falar da dita):
- As meninas levam sempre lanche para a escola feito de casa;
- O pão não é embrulhado em guardanapos de papel mas numa saquinha de pano;
- Comprei garrafas para transportar líquidos e é aqui que elas levam os sumos, pois um pacote maior custa menos, proporcionalmente, do que os mais pequenos;
O restante, como aproveitar tudo o que sobra das refeições, fechar a torneira quando se lava os dentes, tomar duches rápidos, isso já faço há muito tempo, não é novidade, nem é por causa da crise, é porque tenho a obrigação de gerir bem estes recursos escassos.

segunda-feira, 2 de janeiro de 2012

Ironia

Estou com dificuldade em desejar um bom ano às pessoas. Parece que estou a brincar, com elas e comigo própria. Este não vai ser um bom ano para a generalidade das pessoas que vão pagar mais por quase tudo e vão ganhar menos. Ou seja, vão ter dificuldades em garantir o cumprimento dos seus compromissos o que não é bom. A instabilidade e a insegurança não são, de todo, boas companheiras. Vamos ter que reinventar a nossa maneira de estar na vida, pelo menos durante este ano.