quinta-feira, 1 de agosto de 2013

Os sapatinhos vermelhos

Ora aqui está mais um conto infantil digno de integrar a Coleção "Formiguinha". Isto sim, são histórias! As telenovelas, ao pé disto, são desenhos animados.
Era uma vez uma catraia "que tinha tanto de linda como de pobrezinha". Começa bem, não começa? Como não havia dinheiro para mais, a miúda era obrigada a usar "chancas" que lhe magoavam os pézinhos. Um dia a mãe lá se comoveu e compra-lhe umas sapatilhas vermelhas. Sim, leram bem. Não foram uns chinelos de meter o dedo nem uma coisa mal amanhada. Passou de umas chancas para umas sapatilhas vermelhas, se calhar, umas vans. Mas no dia em que a menina ia estrear as sapatilhas, a mãe morre. Pimba. Uma morte, logo na primeira página. Isto promete. Bem, a miúda vai ao funeral da mãe mas já não vai de chancas. Leva as sapatilhas vermelhas, "cor tão contrária ao luto". Mas a miúda estava nas tintas, porque gostava muito "das cores espalhafatosas". Mai nada. Está ela a caminho do cemitério, passa uma velha que diz que toma conta dela e a miúda lá vai (a vida é feita de oportunidades, não se pode pensar muito)! Mal chegam a casa, a velha manda queimar as sapatilhas e dá-lhe professoras (sim, leram bem, é mesmo professoras) que lhe ensinam a ser prendada. Pergunta: que diferença faziam as sapatilhas à velhota?
A miúda começou a ficar cheia de manias, porque era linda de morrer e o seu espelho dizia-lhe isso mesmo. Depois aparece na história a rainha e a sua filha, também muito gira, por sinal. E o que é que ela calçava? Uns sapatos vermelhos (estavam na moda, por aquelas bandas). Toda a gente fica admirada com a beleza da princesinha e a miúda passa-se dos carretos e chateia-se com o espelho que lhe dizia que ela era "a mais linda das rapariguinhas" (valha-me Deus). O espelho diz que, se ela tivesse uns sapatinhos vermelhos, seria tão linda como a outra. A miúda aproveita a Comunhão Solene que se avizinha e vai comprar uns sapatos. A velhota, como vê mal, vai na cantiga da moça, e, em vez dos sapatos brancos que pretendia, traz os vermelhos (nem o meu pai, que é daltónico, confunde branco com vermelho). No dia da Comunhão Solene toda a gente repara, escandalizada, no calçado da miúda, mas esta não está nem aí e pensa que estão todos a reparar na sua beleza. Ora esta convencida está mesmo a precisar de um castigo e, como sabemos, a Coleção Formiguinha não perdoa! Um mendigo lança-lhe um feitiço e a miúda começa a bailar e não pára. Tanto baila por lá fora que vai ter a outra igreja onde está um anjo, com uma espada em chamas na mão e que reitera o castigo. Está a miúda nestas andanças, quando se cruza com o enterro da sua protetora (e já lá vão duas mortas), ficando assim sozinha no mundo. E o que é que ocorre à miúda? O óbvio! Vai ter com um cirurgião e pede-lhe para que este lhe corte os pés! Não me digam que não pensavam o mesmo? A mãe morre, a protetora morre - por favor, cortem-me os pés que eu estou sozinha no mundo! "O homem, cheio de pena, satisfez-lhe a vontade". Podia ter-lhe ocorrido ficar com a miúda mas pedidos são pedidos, não se deixa uma criança com um pedido por satisfazer! Como o cirurgião tem bom coração, não a deixa assim com os toquinhos e arranja-lhe uns pés de madeira e ainda... umas muletas! Bravo! A miúda perde a mãe, a protetora e os pés mas ganha um fantástico prémio! Uns pés em madeira (sem caruncho, completamente novos!) E umas muletas!
Metem-se mais umas frases sem nexo nenhum (não é que as anteriores tivessem algum, mas aqui abusam) e aparece de novo o anjo, não com a espada mas com um ramo de rosas brancas e "tomando-a nos braços, conduziu-a à presença do Senhor".
Segunda pergunta: o que é que o(s) autor(es) destas histórias andavam a cheirar? Bolas, é que isto não lembra nem ao maior louco!
Penso que esta história bateu todos os recordes. Nunca tinha morrido tanta gente, em apenas 16 páginas de conto infantil.

sexta-feira, 19 de julho de 2013

Os sete encantados

Voltamos às grandes histórias da Coleção "Formiguinha"! O início é um clássico: uma miúda vive com a sua avó e são pobres que até doi. Mas muito asseadas! A avó borda e a miúda vai para a rua vender os bordados. Um dia a avó faz uma gola bordada a ponto de cruz e diz para a miúda a vender por três moedas de prata. A tarefa é difícil, como é bom de adivinhar. Cansada, a moça acaba por entrar num rico palácio, encontra três moedas de prata, gama-as e deixa lá a gola. Mas quando vai a sair encontra as portas fechadas. E para o que é que lhe dá? Para começar a limpar e a varrer! (É mesmo a primeira coisa que ocorre, não é? Entro num sítio, quando vou a sair vejo a porta fechada e... Ah! já sei! Vou começar a fazer limpeza!)
Continuando: à meia noite levanta-se muito vento e um coro brada: "Benvindo seja quem, com os sete encantados, houve tamanhos cuidados". Os sete encantados comem e bebem à fartazana, ainda pedem à cachopa para lhes lavar a cabeça (?). Esta satisfaz o pedido e eles dizem-lhe que, mal pare a ventania, ela deve colocar a gola e pôr-se à varanda, que terá sorte. Mas não deve aceitar casamento sem antes consultá-los. A miúda faz o que lhe mandam e um rei, que mora em frente, diz-lhe: "Ó menina da gola, quer mudar de gaiola?" (?) A rapariga consulta os "irmãos" que lhe dizem que ela deve casar-se mas não pode voltar a abrir a boca sem que o rei diga, primeiro, "Pelos sete encantados". Está tudo muito bem, mas o rei não gosta da rapariga muda (seria a alegria de tantos, uma mulher assim, caladinha! Bem se diz que Deus dá nozes a quem não tem dentes). E então fecha-a num quarto e, esquecendo-se dela, casa com uma princesa. (Entretanto a avó deve estar a criar teias de aranha, à espera da moçoila). E é aqui que a coisa anima. Uma criada diz ao rei que a legítima corta a cabeça, penteia-a no regaço, e volta a colocá-la no lugar. A princesa, acabadinha de casar, ouve aquilo e, não querendo ficar atrás da legítima, zás, corta também a cabeça mas "morreu logo". (Logo, logo? Não ficou ainda a esbracejar um bocadinho, como as galinhas?) O rei fica muito triste e, para recuperar, casa com outra moça. A criada volta a fazer das suas e diz ao rei que a legítima, quando fia e lhe cai o fuso, corta a mão, que logo o vai apanhar e torna depois a colocar a mão no seu lugar. (WTF?) A segunda (diz o livro, porque pelas minhas contas é a terceira) esposa do rei, ouvindo isto, corta a mão "e morreu dentro em breve, mercê da infecção sobrevinda" (Sim, que fiquem bem claras as causas da morte, que isto de cortar a própria mão não causa a morte a ninguém. Não fosse a porcaria da infecção, ainda hoje a jovem estava aos pulos, feliz e contente). O rei, inconsolável, vai pedir conselhos à mãe que lá se lembra de lhe dizer para ele pedir pelos sete encantados. O rei assim faz e a miúda responde-lhe: "Doravante falarei pelos cotovelos, pois Vossa Majestade já aprendeu". Mas aprendeu o quê? Como é que o pobre se havia de lembrar de pedir alguma coisa "pelos sete encantados"? A história termina por aqui, mas eu acho que o rei arrependeu-se pela vida de seguir os conselhos da mãe...

terça-feira, 16 de julho de 2013

Isto assim não presta

As histórias da famosa coleção "Formiguinha" estão a perder qualidade e, por isso, hoje vou apresentar duas. Não há batatada, nem ninguém que é enterrado, nem ninguém que tira os olhos para pagar um pedaço de pão e uma pinga de água e, depois, é lançada ao mar e, depois, volta a pôr os olhos no sítio. Isto assim, definitivamente, não presta! Onde está o drama, o terror, o medo? Parecem histórias destes tempos, palavra de honra!
A primeira história de hoje chama-se "Canta, surrão!" Ora, para quem não sabe, como era o meu caso, surrão é "a bolsa de couro usada pelos pastores para levar o farnel", segundo o Dicionário de Língua Portuguesa. A história fala de uma viúva e de sua filha, Beatriz, que era uma menina muito curiosa. Depois de pormenores que não interessam, a menina acaba no surrão de um velho (ganda farnel que o pastor levava, para caber lá a cachopa!) e este ganha a vida a dizer que o seu surrão canta. Quando diz: "Canta, surrão senão levas com o bordão", a miúda põe-se a cantar e as pessoas, impressionadas, dão dinheiro (impressionavam-se com pouco, diga-se de passagem). As autoridades acabam por descobrir tudo e o velho, de castigo, é obrigado a trazer o surrão cheio de pedras. A miúda, com o susto, ganha juízo. Francamente! Isto é história que se apresente numa coleção desta natureza?
A outra não é melhor, cheia de lições de moral e essas coisas. Chama-se "O Rei e os sabichões". Era uma vez um rei que tinha três conselheiros muito sábios e gabarolas. O rei, um dia, decide dar-lhes uma lição e fala em código com um velho. Os sábios não percebem nada, o rei ameaça despedi-los se não conseguirem deslindar o código; os sábios, aflitos, vão às escondidas ter com o velho que lhes revela o que queria dizer a conversa mantida com o rei e, como paga, exige que os sábios se dispam (?). O rei entretanto aparece e diz: "O verdadeiro sábio é sempre humilde, porque quanto mais sabe, mais percebe que ainda lhe falta saber". E como o velho ainda tinha três filhas para casar, o rei aconselha os sábios a oferecerem bons dotes às moças. Saiu-lhes cara, a brincadeira! Vamos lá ver se, com o decorrer da coleção, isto volta a animar.

sexta-feira, 12 de julho de 2013

O tesouro do ceguinho

Ora aqui temos finalmente uma história que podiamos contar às crianças de hoje, sem que estas tivessem que ir a correr, traumatizadas, para o psicólogo. Esta história, se fosse escrita hoje, teria como título "O tesouro do invisual" e contaria, na mesma, a história de um ceguinho que pedia às portas das igrejas e nas festas, amealhando, assim, bom dinheiro. Esse dinheiro era colocado numa panela (esperto, o ceguinho, não queria nada com a banca e era o que ele fazia melhor) e enterrado debaixo de uma figueira (se calhar no buraco que ficou aberto quando desenterraram a miúda da outra história). O grande problema é que o ceguinho ia frequentemente fazer os seus depósitos, o que despertou a atenção de um vizinho que, depressa, foi lá e gamou o dinheiro todo. O ceguinho, quando voltou à panela, encontrou-a vazia e logo desconfiou do vizinho, por não haver por ali mais ninguém. (Não primavam pela esperteza, os dois). Mas o ceguinho não entra em pânico e trata é de pensar num bom plano. Assim, vai a casa do vizinho da figueira e diz-lhe que tem andado a juntar dinheiro e que estava a pensar deixar-lho, quando morresse, por ele ser tão bom vizinho. E acrescentou que tinha mais dinheiro, noutro buraco e que, um dia, juntaria esse ao dinheiro que estava na panela, debaixo da figueira. O vizinho, ao ouvir estas palavras, apressa-se a pôr a panela e o dinheiro no sítio onde estava. "Os tempos iam de careza, e o que roubara mal chegava para fazer uma casa", diz no livro. "Agora, se ele fosse mais um bocadito, isso sim, daria para viver à tripa forra, gozando cama de molas e colchão de sumaúma, boa mesa e outros luxos". Bem, aqui teria que se fazer uma adaptaçãozita, pois estes bens materiais não dizem nada às crianças. Seria melhor substituir por: "daria para viver à grande e à francesa, gozando de boas férias nas Caraíbas, de um plasma de 5x4m, de um Ipad, Ipod, Playstation último grito, MP6, tablet e outros luxos". Está visto que o ceguinho foi logo lá buscar a panela com o seu tesouro e, depois, passou por casa do vizinho dizendo-lhe, muito desgostoso, que a panela tinha sido roubada. Eu sei que sabe a pouco, mas a história é mesmo só assim: não há porrada, ninguém escarranchado, ninguém enterrado, ninguém tira os olhos para pagar um pouco de pão e uma pinga de água e ninguém é esfolado. Pode ser que amanhã isto anime. Bons sonhos.

quarta-feira, 10 de julho de 2013

A menina dos cabelos de oiro

Após um curto intervalo, voltamos às belas histórias da Coleção "Formiguinha", algumas delas autorizadas pela Comissão de Literatura e Espectáculos para Menores", como é o caso desta. Havia um casal que tinha um casal de filhos e estava, como nós todos nos dias de hoje, a passar dificuldades. Sem meias medidas o patriarca diz à mulher que o melhor é matar uma das crias, pois seria "menos uma boca a pedir pão". Começa bem, não começa? Eu bem avisei!
O miúdo estava ainda acordado, ouviu a conversa, acordou a irmã e puseram-se os dois na alheta. Adormeceram na floresta e logo apareceram três fadas. Uma diz que a menina será a cara mais linda do mundo; a outra dá-lhe umas mãos prendadas e a outra deseja que quando a menina se pentear, caia ouro dos cabelos. Em coro, as fadas gritam para que dos meninos se afastem lobos, ursos "e outros males que pela terra vão". Quando amanhece as duas crianças vão ter a casa de uma velha muito feia que tinha uma filha ainda mais feia. Os miúdos, claro está, são tratados mal e porcamente até que um dia o miúdo precisa de uns sapatos, a irmã escova o cabelo e o puto lá leva o ouro para trocar em tostões. O ourives pergunta-lhe como conseguiu ele o ouro e o miúdo bufa tudo. O ourives conta ao rei a história e os dois, achando que aquilo é uma valente patranha, encerram o miúdo numa torre, cuja janela dá para o mar. Depois manda vir a miúda à sua presença (não teria sido melhor fazer ao contrário? Era só uma sugestão...) A velha, entretanto, decide matar a miúda à fome e sede e esta, já completamente faminta e desidratada, implora por um bocadinho de pão e água. A velha diz que lhos dá mas, em troca, quer os seus olhos!!!! Eu avisei que esta história era das boas! A miúda lá lhe dá os olhos mas entretanto, como a velha recebe a ordem de levar a miúda à presença do rei e não querendo ser castigada, lança a miúda ao mar e vai com a sua filha, fazendo-a passar pela outra garota. Entretanto as fadas deviam estar a nanar porque só agora voltam em socorro da pobre (acreditar em fadas é no que dá! Então onde estavam elas para afastarem os miúdos de todos os males? Promessas, é o que é!) Bem, as fadas lá pegam na miúda e põem-na junto do irmão. Entretanto a pequena pede papel ao carcereiro, faz um lindo ramo onde não faltou o ouro e pede ao carcereiro para o vender por um par de olhos (coisa acessível, não deve ter demorado nada a fazer negócio!). A velha, que entretanto tinha os olhos que sacou à miúda, fica com o ramo e dá os olhos que a própria miúda volta a pôr no sítio (quais cirurgia, quais carapuça!). O rei toma conhecimento de toda esta história e verifica que a miúda que está encarcerada é que deita oiro pelos cabelos. Pergunta qual é o castigo que a menina quer dar à velha e a menina não vai de modas: "quero que da sua pele se faça um tambor e dos ossos uma cadeirinha para eu me assentar". Mai nada! Eu não disse que tínhamos voltado às histórias infantis em condições?

Mais detalhes

Os convidados ficaram lá perto, mas não chegaram aos 100. Foi o Grupo Coral de S. João que cantou na cerimónia na Igreja. Os aperitivos foram servidos dentro da Albergaria S. Cristóvão (ao contrário do previsto) porque estava uma ventania medonha. Houve um percalço com o meu vestido. Da vez que fui à loja para fazer os arranjos necessários, deparei-me com um vestido tamanho L. Enganaram-se e mandaram o meu para Lisboa e veio um L de Lisboa para aqui. Quando o vesti, nem se segurava nos ombros. Eu fiquei sem pio, mas a minha mãe armou banzé suficiente e logo fizeram a troca. Quando casei pesava 43 quilinhos. Não havia temas nos casamentos. O convite e a ementa foram comprados no Estúdio Nobre (onde se situa hoje a Natalia Cabeleireira) e não tinham nada a ver um com o outro. Aliás, nada era a combinar. Os marcadores de mesa foram feitos em casa por mim e pela mummy. As lembranças de casamento foram compradas no Porto e era um casal de noivos em cima de uma caixinha e nessa caixinha estavam dois bombons.

20 anos: as conquistas

Temos duas filhas lindas. Temos mais sobrinhos. Temos dois sobrinhos netos. Temos menos um amigo insubstituível. Não temos contacto com alguns dos amigos que estiveram no casamento, mas ganhámos outros! Continuamos a ter a mesma família adorável.
Temos quase um apartamento. Temos um carro. A casa mobilada ao nosso gosto (alguma mobília já tem 20 anos, alguns cortinados também!). Uma máquina de lavar roupa que lava, quase ininterruptamente, há 20 anos! A mesma máquina de lavar louça (trabalha pouco). A televisão de há 20 anos também ainda cá está.

Dia de Casamento - as presenças e as ausências

Não consigo deixar de pensar nas muitas pessoas que estiveram no nosso casamento e que já não estão entre nós. Há uma que tenho que destacar, porque a sua ausência mudou a minha (nossa vida) para sempre. A partida precoce (tão precoce) do João Armando mudou tudo: até a minha forma de ver a vida e a morte. Sim, ao olhar para as fotografias, é a ausência que doí mais. Mas foram muitos mais os que partiram, entre familiares e amigos, serão talvez uns 15... mas também não posso deixar de olhar para o outro lado, felizmente maior, dos muitos que se juntaram a nós nestes 20 anos! Sim, foram muitos mais os que nasceram, contei, assim de repente, 26! E muitos os que se juntaram por força do namoro e do casamento, mais de uma dúzia!

Dia de Casamento - os detalhes

São 20 anos, não é para qualquer dois! Uma data tão redondinha merece um balanço mais detalhado. Por isso, vamos aos detalhes! O fato do Abel (e acho que a camisa, o laço e a faixa) foram comprados no Porto, na Rua dos Clérigos. O meu vestido foi comprado na Pronovias, numa loja que existia no antigo Carrefour. Fui só eu e a minha mãe comprar o vestido. Experimentei talvez uns sete e quando vesti o que comprei disse para mim: é este! Os sapatos foram comprados na Sapataria Eugénio, em S. Miguel, que já não existe. O meu ramo, que estava lindo, foi a Saudade que o fez, na sua loja que se situava no Centro Comercial Garrett e que também já não existe. O cabelo foi penteado na Locas, que se situava no cantinho do Centro Comercial Garrett (o cabeleireiro ainda existe, mas mudou de localização, embora se situe no mesmo centro comercial). A cerimónia foi na Igreja Matriz, porque a Igreja de S. João estava, na altura, em obras. Quem celebrou foi o Padre Bastos e as leituras (as duas e a oração dos fiéis) foram feitas pela Branca, pelo João Armando e pela Mira. A reportagem fotográfica e o filme estiveram a cargo da Alice Nobre e do Gaspar. A boda foi na Albergaria S. Cristóvão (agora Aqua Hotel). O meu véu e as flores que levei no cabelo vieram de Espanha!

terça-feira, 9 de julho de 2013

A noiva do príncipe sério

Ontem o príncipe tinha orelhas de burro; hoje o príncipe não se ri. Em frente ao palácio vivem avó e neta: a avó ambiciosa e a neta feia que nem um bode (começa a ser recorrente isto de haver, nas histórias, sempre alguém feio que nem um bode). Bom, a avó teima que tem que casar a neta com o príncipe, mas recomenda ao Rei que tem que ser às escuras, porque a moça é muito envergonhada. Um sapo chiba-se e diz ao Rei que a miúda é um susto, daí a avó querer casá-la às escuras. Por isso, ao contrário do combinado, o Rei manda acender todas as luzes do palácio e a moçoila fica ali exposta em toda a sua fealdade. E agora vem o melhor: não satisfeito com isto, o Rei manda que lhe seja tirado o vestido (que ele havia dado) e "ponham-na nuazinha à varanda do palácio"? A sério? C'um caneco! Era preciso tanto! Nossa, que biolência! Ora o príncipe, ao regressar ao palácio (então o moço não devia estar dentro do palácio? Não se ia casar?) olha para a varanda e põe-se a rir (?)Que história tão tonta! Ainda bem que aparece uma fada que torna a miúda numa belezura, com a condição de que esta diga, a quem lhe perguntar, que ficou assim porque um barbeiro a esfolou (?) Mas então a miúda não estava na varanda? Como pode um barbeiro tê-la... esfolado? (Até doi, escrever esta palavra). O que é certo é que o Rei, ao ver o filho a rir-se, decide perdoar a menina e, indo ao encontro dela, descobre uma jovem muito bela. O príncipe quer logo casar com a bonitona e no dia da boda, a avó pergunta à neta como ficou ela assim. A neta responde-lhe o combinado com a fada e a avó logo corre para o primeiro barbeiro e pede-lhe que a esfole (ai Jasus!). O barbeiro, pelos vistos, não se faz rogado (estou a ver: o mais normal era mesmo entrar alguém pelas barbearias dentro, a pedir: esfola-me! Esfola-me!). O resultado foi o previsível: a avó morreu (já há muito que não havia uma morte assim trágica... já estavam a ficar com saudades, não estavam?) "para castigo da sua vaidade". Minha Nossa Senhora! E ainda continuam a achar que quem leu estas coisas deu em pessoas com o juízo todo?

segunda-feira, 8 de julho de 2013

O Príncipe com orelhas de burro

Temos aqui um conto que é uma versão masculina da Bela Adormecida. Pelo terceiro conto consecutivo, não são enterradas pessoas vivas, mas é enterrado um segredo. Volta a aparecer uma cana, transformada em flauta, e que fala. Resumindo: a imaginação do autor dos contos começa a dar de si... Mas vamos ao que interessa: era uma vez um Rei, que não consegue ter filhos. A solução passa por ir chamar as três fadas à floresta. Lá aparecem as três fadas que garantem que o Rei conseguirá ter um filho se prometer que as chamas para o batizado. O Rei promete que as chama e como isto tudo ainda era escrito numa altura em que se cumpria o que se prometia, no dia do batizado lá aparecem as três (o que não devia custar ser chamada para uma festa!). A Bonita determina que o príncipe seja bonito; a Sabichona determina que ele seja inteligente e a Sensata determina que ele nasça com orelhas de burro (uma decisão mesmo, mesmo muito sensata, fiquei a perceber porque era ela a fada Sensata!) Cumprem-se os votos das fadas, o puto lá cresce a menor ritmo do que crescem as orelhas que são ocultadas por um barrete que ele usa sempre. O puto é um convencido sem igual, menospreza tudo e todos até que, no primeiro dia em que o rapaz tem que desfazer a barba, o barbeiro descobre toda a verdade. O Rei ameaça mandá-lo para a forca se ele revelar o segredo e o barbeiro, a conselho do abade, para se livrar do peso de guardar tamanho segredo, abre um buraco e grita para lá o seu segredo, enterrando-o de seguida. É nesta altura que lá nasce um canavial e que um pastor pega numa cana, transforma-a em flauta, leva-a aos "beiços" e esta grita "O Príncipe tem orelhas de burro". O segredo deixa de o ser e o rapaz toma juízo e pede desculpa a todos, por ter zombado deles, tendo ele próprio um defeito daquela envergadura. E é então que a fada Sensata lhe dá umas orelhas giras, autoproclamando-se salvadora da pátria: "se não sou eu tinhas permanecido um vaidosão! Mas como estás curado do defeito, não há motivo para continuares orelhudo". Começam a ser maçadoras, estas histórias... Sem pancadaria tornam-se mesmo sensaboronas.

domingo, 7 de julho de 2013

O peixinho encantado

Mais uma encantadora história desta encantadora coleção. Este conto tem semelhanças assustadoras com a atualidade. Reparemos, pois. A Ti Rosa é viúva, não tem dinheiro e, como se isto não bastasse, tem um filho feio e idiota. Até aqui, tudo mais ou menos bem. Para além dos dois defeitos já citados, o moço tem mais um - é malandro que se farta. E agora, atentem nas semelhanças: "para se sustentar e ao filho comilão, a Ti Rosa trabalhava, pois, de sol a sol..." Não fique triste, Ti Rosa, é o que acontece ao povo português!
Um dia, um vizinho decide levar o moço para a floresta, para que este o ajude a carregar a lenha. O moço lá vai, volta carregado que nem um burro e senta-se na beira de um riacho, onde lhe aparece um peixinho vermelho. Este promete ao rapaz que se não o matar, ele faz-lhe as vontades todas. O moço pede-lhe que o molho de lenha se transforme em cavalo. E logo o João (assim se chama o rapaz) "achou-se escarranchado no feixe". No caminho passa pelo castelo e, vendo a princesa à janela, logo deseja que lhe apareça um inchaço nas costas que só ele seja capaz de curar. (Era mesmo idiota! Quem se lembraria de uma coisa destas?). Assim acontece, o rei promete a mão da filha a quem a curar, o moço vai lá mas o rei decide testar o "curandeiro". Pede-lhe, primeiro, que apareça à sua frente muito dinheiro e aparece!(João, vem aqui a casa, por favor, eu não te chamo idiota, mas faz a mesma magia, fazes?); depois pede-lhe para que se transforme num rapaz "bonitão e ajuizado" (bonitões dispensamos, mas se puderes pôr juízo em algumas cabeças, agradecíamos também) e, vendo que o rapaz é mesmo poderoso, permite que o João cure a princesa e se case com ela (desconfiado, o rei, não?). E pronto! Mais uma vez não há ninguém enterrado vivo e ninguém leva uma tareia de caixão à cova. Estão a perder qualidades, estes contos.

sábado, 6 de julho de 2013

O rapaz do cavalinho branco

Este é o número três desta fantástica coleção "Formiguinha" que, não sabendo eu que tem décadas, diria que tinha sido escrita hoje. Isto porquê? Já vão perceber. Esta é a história do feiticeiro Barba-Vermelha (podia ser barba de outra cor qualquer pois, como é do conhecimento geral, os desenhos do interior são a preto) e do seu sobrinho Martinho. O velho vai fazer uma viagem e entrega ao sobrinho duas pesadas chaves, de duas portas (porque é que tudo, nos últimos dias, leva a portas?) e diz ao garoto para não as abrir, caso contrário, mata-o. O velho não leva as chaves consigo, porque são muito pesadas. Primeira pergunta: o velho não é feiticeiro? Não podia transformar as chaves pesadas em chaves leves ou até em rolhas de cortiça, ou noutra cena qualquer?
Continuando: o puto, mal o velho vira costas, é claro que vai logo abrir uma porta. Aparece-lhe um lobo e ele fica aterrorizado, fechando a porta de seguida. O que o puto não estava à espera era que aparecesse o tio, irritadíssimo com a desobediência. (O velho não consegue transformar as chaves noutra coisa, mas consegue voar de um sítio para o outro. Bem se diz, cada um é para o que nasce). O feiticeiro tem pena do sobrinho e perdoa-lhe a desobediência. O puto, não satisfeito com a primeira alhada, logo se mete na segunda e abre a outra porta. Aparece-lhe um cavalo branco e, claro está, o tio. O cavalo diz ao miúdo para pegar num ramo, numa pedra e em areia e saltar para cima dele (isto também me lembra alguém mas, de momento, não estou a ver quem). O miúdo assim faz e, enquanto o tio corre atrás dos dois, o puto larga o ramo e logo surge uma densa floresta; depois a pedra e surgem montanhas e depois a areia e surge um mar revolto. Resumindo: o cavalo é muito melhor feiticeiro que o Barba-Vermelha, é pena não vir o seu contacto telefónico no final do livro.
Tudo termina com a chegada do miúdo a uma aldeia onde todos choram o rapto da princesa, por um gigante. O Martinho recorre mais uma vez ao cavalo para ir salvar a princesa, salva-a; ainda volta à ilha porque a fulana tinha perdido o anel que a fada madrinha lhe tinha dado (exigentes, estas mulheres, bolas!) e acaba por casar com ela. Confesso que não percebo muito bem o final mas, como tinha dito, parece-me uma boca para um certo político da nossa praça: "esta (a princesa) lembrou ao pai que palavra de rei não volta atrás". Pois. Palavra de rei é irrevogável. Até voltar atrás. Durmam bem.

sexta-feira, 5 de julho de 2013

As caras trocadas

Confesso que esta terceira história deixou-me algo desiludida... há pouca emoção e, pior do que isso, ninguém é enterrado vivo. Era um estilo a que já me estava a habituar e que foi abruptamente interrompido... vamos lá ver se a quarta história repõe a adrenalina.
Bem, esta é a história da Cinderela, mas mais mal amanhada, diria eu que é a história da Cinderela para pobres. Temos mais uma vez um viúvo que tem uma filha, linda de morrer e que casa com uma mulher, de quem tem outra filha, mas feia que nem um bode (não sou eu que digo, é o senhor que adaptou o conto e que se chama, ou chamava, João Sereno). Tenho que fazer aqui um parêntesis (é o que dá a história não ter ponta por onde se lhe pegue) para dizer que, no fim, alguns destes livros (suponho que os mais antigos) dizem assim: "Autorizado pela Comissão de Literatura e Espetáculos para menores". Ficamos a saber que isto das Comissões para tudo e para nada já não é de hoje. Há décadas atrás existiu, como os livrinhos comprovam, uma Comissão de Literatura e Espetáculos para menores, com um bom senso desgraçado, bem se vê. Há coisas, de facto, que nunca mudam.
Mas vamos ao que interessa: a esposa do viúvo tratava muito bem a filha de ambos e mal e porcamente a enteada. Um dia mandou as duas guardar uma vaca e deu à filha um lanche do melhor e à enteada uma "bolorenta côdea de broa". Apareceu, entretanto, uma fada que pediu algo para comer. A filha virou-lhe a cara e a enteada partiu logo ao meio a sua côdea. Permitam-se que discuta aqui a bondade genuína da enteada... é certo que deu o que tinha mas... uma bolorenta côdea de broa? Quem não gostaria de se livrar dela? Bom a fada achou o gesto muito bonito e, como estávamos numa altura em que os bons eram premiados e os maus castigados (isto deixou-me nostálgica... já não via disto há muito tempo...) trocou as caras das cachopas. Ao chegarem a casa, a mãe pensou que a giraça era a enteada e fechou-a na cave e à outra deu-lhe mimos e mais mimos. Depois entra na história um príncipe, como não podia deixar de ser, e tomou-se de amores pela enteada a quem a fada tinha restituído a beleza, às escondidas da madrasta. A giraça casa, a madrasta quando a vê "teve um chilique" e "segundo consta", mãe e filha "rebentaram então de inveja". Não há pessoas enterradas vivas mas há duas que rebentam... e, tendo em conta a violência das histórias anteriores, fico na dúvida se este rebentamento é uma metáfora ou se é mesmo um rebentamento.

quinta-feira, 4 de julho de 2013

As três maçãzinhas de oiro

A história de hoje tem algumas semelhanças com a de ontem, já que há também uma criança que é enterrada viva, se bem que está menos viva que a Rosalinda de ontem, o que pode ser uma atenuante. Bom, esta é a história de três irmãos, um lindo de morrer (olhos azuis, cabelo loiro e faces rosadas) e outros dois feios e invejosos. O bonitão é pastor (trabalho infantil) e quando vai guardar as cabrinhas vê uma macieira, carregada de maçãs e apetece dar uma trinca (raios partam as maçãs e os humanos! E o povo ainda se admira que eu não goste de fruta!) Como, para além de ser um gato, tem princípios sólidos, não rouba as maçãs e vai à sua vida. Já na serra, aparece uma fada que lhe dá três maçãs de oiro! Nos dias de hoje, o puto tinha deixado as cabras e tinha ido logo à Ourivest trocar aquilo em patacos. Mas, na altura, guardou o tesouro que o salvava (a ele ou a qualquer outro proprietário) da morte. Só que pelo caminho os irmãos viram o tesouro e como o primeiro não lhe deu nada, eles bateram-lhe e deixaram-no como morto, tendo-o enterrado depois. De salientar que não conseguiram gamar as maçãs, porque o miúdo, mesmo moribundo, agarrou-as com unhas e dents. Ontem, a miúda, se bem se lembram, ficou com os cabelos de fora; hoje nasceu uma cana no sítio onde o miúdo foi enterrado. Ora essa cana, quando foi cortada, falava e resumia a história do miúdo. A gaitinha passou, literalmente, de boca em boca (que porcaria), até que foi parar, e agora têm mesmo que prestar atenção, "aos beiços" dos pais do garoto! "Beiços" é giro, não é? Os pais, espertos, viram logo que era a história do filho, foram ter à campa e hoje, tal como ontem, o miúdo estava vivo! Deu as maçãs aos pais, estes viveram até se cansarem da vida e quando já estavam fartos deram as maçãs ao filho para poderem morrer (é que com as maçãs na sua posse, nunca mais iam desta para melhor, lembram-se?). O puto fez a mesma coisa para com o seu filho. "E depois? Morreram as vacas, ficaram os bois". Já fazia falta uma alusão à morte. Ainda bem que a história tem este final. Mas esta mania de andarem a enterrar toda a gente começa a ser um bocadinho incomodativa, não?

quarta-feira, 3 de julho de 2013

A menina e a figueira

Inicio, hoje, uma nova rubrica neste blog. Tudo porque ontem me deu para andar aqui a vasculhar caixas e descobri uma, com livros da famosa coleção "Formiguinha" lá dentro. Estes livros, aparentemente inofensivos, explicam muita coisa. Foram lidos por várias gerações, incluindo, com toda a certeza, pela geração que nos governa.
Começo pela história intitulada "A menina e a figueira". O título é bonito, é brando, nem faz suspeitar do que encontraremos lá dentro. O texto começa logo sem meiguices, para não iludir ninguém. "Nosso Senhor levara para junto de si a mãezinha de Rosalinda". Pumba. Mai nada. Logo uma morte para verem quem é que manda aqui e para descobrir quem os tem no sítio para continuar a leitura. Ora a Rosalinda fica órfã de mãe, o pai apressa-se a arranjar mulher e esta não é o que parece. Na frente do marido é toda mesuras, mas por trás trata a miúda do piorio. Uma das tarefas que lhe dá é que esta guarde uma figueira, para que nenhum pássaro roube os figos. O que vem a seguir, não tem qualquer conotação política, mas é o que lá diz. Aparece um coelho que distrai a menina e vem um pássaro, nesse entretanto, e leva um figo. A madrasta fica doida e enterra a menina viva, deixando-lhe, apenas, os cabelos de fora (?). O coelho AJUDA (sim, no livro o coelho ajuda a menina, fazendo um túnel até ela por onde lhe leva comida e bebida para que a menina "ficasse comodamente instalada"). De realçar que já naquela altura a noção de comodidade por parte dos coelhos era bastante desajustada da realidade). Bem, entretanto chega o pai da moça, toma conhecimento do desaparecimento da filha, junta-se um príncipe à mistura, o pai vai cortar feno para o burro do príncipe (sem querer insultar o príncipe) e, como era de noite, agarra nos cabelos da filha a pensar que era o tal feno. A miúda grita uma cantilena, os dois apercebem-se que é a garota desaparecida e desenterram-na. A miúda chiba-se toda, eles perguntam que castigo quer ela para a madrasta e ela, como era "boazinha" (mais para o burra mesmo) diz que quer que a madrasta fique a guardar as figueiras dos jardins do palácio. Vai daí o príncipe "sem demora pediu a Lourenço a sua mão" (não fica claro se pediu a mão da miúda ou do próprio Lourenço podendo dizer-se, por isso, que a discussão sobre o casamento entre pessoas do mesmo sexo foi iniciada há décadas.
Depois disto tudo, acreditam que as gerações que leram isto podem ser normais?

quarta-feira, 26 de junho de 2013

Já passou um ano

Há um ano atrás, a minha manhã acordou diferente, com a notícia de que o Sr. Mendes Pinto tinha partido. Um médico já me tinha prevenido que a doença não estava para brincadeiras, que a sua percepção lhe dizia que a doença ia levar a melhor. Mas terminava sempre com a mesma frase: ó Nelinha, mas há milagres! E a Nelinha acreditou que o Sr. Mendes, uma pessoa tão cheia de fé, podia muito bem ser palco para um milagre. Não foi. A fragilidade da vida, mais uma vez, posta ali a nu. O Sr. Mendes Pinto ainda tinha projetos para concretizar. Tinha ideias e coisas para fazer. E, num repente, pára tudo. Foi tudo tão rápido que, às vezes, ainda me custa a acreditar que já não está entre nós. O facebook diz-me que ainda está por aqui. Este mesmo blog tem a fotografia dele, mesmo ao lado desta mensagem e, por isso, às vezes ainda me pergunto se ele partiu ou não. A nossa relação foi esfriando, ao longo dos anos, mas nunca poderei esquecer o seu entusiasmo, a sua disponibilidade e a força com que defendia as suas ideias, contrabalançada pela abertura que tinha em ouvir as ideias dos outros. Marcou muito a minha juventude, fez-me sentir que, quando há vontade, tudo é possível, fez-me sentir, em muitos momentos, uma pessoa importante e especial. Por tudo isto, estarei sempre grata. Por tudo isto, nunca o esquecerei. Até sempre!

terça-feira, 11 de junho de 2013

Antes e depois

Há 14 anos atrás, a minha vida mudou radicalmente. Foi mais ou menos por esta altura que soube da tua partida. Ficou tudo sem sentido, foi um golpe, um "roubo" como alguém, numa ocasião, disse e muito bem. Foi mesmo um roubo. Duro. Há 14 anos atrás, logo depois do almoço, saí, rumo ao Porto, para comprar o vestido de batizado para a Leonor. Não encontrei nada que gostasse e acabei por comprar um, que já tinha debaixo de olho, em Oliveira de Azeméis. Passámos por onde tudo aconteceu, vimos um carro que julgávamos ser igual ao teu (mas nunca o teu) e as pessoas, ainda por ali. Viemos para casa e jantámos. Uma visita inesperada dos meus pais e o choro do Abel apertou o meu coração. E não foram precisas grandes palavras, só ficou a dor, uma dor imensa, dilacerante, desproporcional às minhas forças. Não percebi. Não percebi mesmo nada. Fui para a casa onde moravas, na esperança de que alguém me dissesse que tudo não passava de um mal entendido. Mas a luz (era diferente, a luz da fachada, estava triste, sem brilho), a presença de tanta gente a entrar e a sair anunciou que não havia nenhum mal entendido. Ou, melhor, concentravam-se ali, naquele lugar, naquele momento, todos os mal entendidos do mundo. Há uma vida até ali e uma vida depois. Para ti e para nós, que sentimos a tua falta. Acredito que, hoje, tu és um ser de Luz, diferente também do que eras, até àquele dia. E nós - os três que aqui ficámos, sabes bem a quem me refiro - somos um corpo mutilado que aprendeu a viver assim, mutilado. Bem sabes que não te esqueço, converso tanto contigo (não perdi o vício, as conversas continuam intermináveis)! Ouço as tuas risadas, tão genuinas, tão frequentes! Já consigo falar de ti sem chorar, estou uma mulherzinha! (Sim, ouço agora as tuas risadas). Beijo grande, amigo.

sábado, 4 de maio de 2013

Não há mãe como a minha

Sou filha há mais de 43 anos e mãe há pouco mais de 14. Os números dizem tudo: tenho muito mais experiência em ser filha do que em ser mãe. Esta desigualdade numérica é, contudo, apenas a ponta do iceberg. Tenho uma mãe mázinha que elevou a fasquia até se dizer basta. Por mais que eu pule e salte, não há maneira de lá chegar. A minha mãe tem uns 79 magníficos anos, a maior parte deles passados a cuidar (de forma exímia) dos seus três filhos. Fazendo as contas por alto, ela vai com mais de meio século de experiência maternal, o que lhe confere, só por si, uma destreza difícil de igualar. Ainda hoje faz questão de cozinhar para todos (e que bem que cozinha! Fixa que para um não pode abusar no sal, por causa da hipertensão; para outro não pode abusar nas gorduras, por causa do colesterol, enfim...), é na casa dela que deixo a roupa, quando as nódoas são difíceis de tirar; faz arranjos de costura, dá conselhos, partilha saberes... não tenho metade destas competências e gosto muito de ter uma mãe assim. A minha mãe resolve tudo, não há nada sem solução para ela, conforta, mima, dá força e faz panados para as netas, quando estas vão a passeios. Faz os pratos preferidos de toda a gente, inventa na cozinha, está sempre atenta às novidades, é open mind...
Resumindo: a minha mãe não é deste mundo, é sobrenatural. Adoro-a, admiro-a profundamente e houve uma altura em que queria ser uma mãe como ela, mas já me deixei disso, já não sonho tão alto. Sou uma abençoada por ter uma mãe assim. Feliz dia para ti, sempre, sempre, sempre!

sexta-feira, 19 de abril de 2013

Uma infância espetacular

Tive uma infância super feliz. Cresci num aglomerado habitacional (não se diz bairro, que é feio), numa altura em que os vizinhos se conheciam pelo nome, pediam favores uns aos outros e partilhavam segredos, festas e pequenos-grandes dramas. A escola, ou era toda de manhã ou era toda à tarde e, por isso, grande parte do tempo estava disponível para brincar. Gostava de ir para a escola, se bem que os nervos, às vezes, apoderavam-se de mim. Tive sempre a mesma professora, do primeiro ao quarto ano (não se diz classe, que é feio). Esperávamos por ela no recreio, que não era vedado, e quando a avistávamos diziamos: "Lá vem a nossa senhora!". Ou então: "Lá vem a D. Rosinha". A professora não podia gritar comigo, porque eu chorava muito. E também não podia gritar com os outros, porque eu chorava muito (o descontrolo dos outros sempre me fez confusão). Só não gostava de ir de boleia, porque chegava sempre tarde e os meninos que chegavam primeiro já tinham escolhido os lápis grandes. Passo a explicar: os lápis, no final de cada aula, eram colocados numa caixa de sapatos. No outro dia, cada aluno tirava um lápis qualquer. É claro que os primeiros a chegar tiravam os lápis maiores e, quando eu chegava, já não havia lápis grandes, tinha que me contentar com os pequenos. E eu achava aquilo uma injustiça, porque havia meninos que não trabalhavam nada e tinham um lápis enorme e eu, que era tão aplicada, ficava com uma miséria de lápis. Até que um dia, estava tão fula, que decidi partir o bico ao lápis que me tinha calhado em sorte, pois sabia que ele não resistia a mais uma afiadela. O plano era bom, mas a professora deu conta e ralhou comigo. Chorei que me fartei e lembro-me como se fosse hoje. Houve alturas em que a minha mãe me ia levar e buscar a pé (não havia carro). A escola não era tão perto quanto isso, distava talvez um quilómetro ou um pouco mais. Mas durante a maior parte do ensino básico do primeiro ciclo (não se diz escola primária, que é feio) ia e vinha a pé, juntamente com os outros meninos. Levava o lanche numa bolsinha de pano ou numa bolsinha de croché. Tirava os sapatos à entrada da sala de aula e calçava uns chinelos, para não estragar a alcatifa. Não me lembro de ter grandes trabalhos de casa. Lembro-me muito bem da auxiliar de ação educativa (não se diz contínua, que é feio). Chamava-se Marquinhas. A Marquinhas era muito querida para nós e catava as cabeças dos meninos para ver se tinham piolhos. Um dia descobriu que eu tinha lêndeas. Chorei que me fartei. E mal sabia que o pior estava para vir. É que eu tinha o cabelo abaixo do rabo. Chorei ainda mais.
Lembro-me de brincar muito. Não tive nenhuma Barbie, acho que ainda não as havia, pelo menos por estas bandas. Tive uma Tuxa, loirinha. Era uma espécie de Barbie mas mais gordinha e com uma carinha rechonchuda, bastante desproporcional em relação ao corpo (digo eu hoje, com um olhar objetivo, mas gostava muito dela e continuo a gostar, ainda a guardo, mesmo com a cintura colada). Costumava brincar com a Paula e com o irmão, com o Rui. Depois mudaram-se para lá a Márcia e a Sílvia e brincávamos todos. Na maior parte das vezes brincávamos na garagem de casa dos meus pais que chegou a ser uma escola, um cabeleireiro e até a redação de um jornal, o tal que tinha o mesmo nome que este blog. Tinha legos e também adorava brincar com eles. Também brincávamos cá fora, à macaca (as macacas tinham duas formas: uma delas começava com dois ou três quadrados em linha, depois tinha um conjunto de dois em paralelo, depois voltava a ter só um e terminava novamente com dois quadrados. A outra era uma espécie de quadrado gigante com quadrados lá dentro. Não me lembro se tinham nomes distintos). Brincávamos também com o pião, com a mona e, mais tarde, com o elástico e com a corda de saltar. Nunca faltava companhia nem ideias para brincar. Noutras ocasiões passávamos as tardes a apontar as matrículas dos carros que passavam na estrada principal. Não me lembro bem qual era a finalidade, mas juntávamos imensas matrículas. Também ia à mercearia fazer muitos recados para a minha mãe.

terça-feira, 2 de abril de 2013

Mimos

Tenho recebido muitos mimos por causa do meu beijinho que ficou por dar. E é tão bom quando as coisas vêm ter connosco! Bem diz o ditado: "quem encontra sem procurar é porque muito procurou sem encontrar". Gosto desta fase de colheita! Estou muito contente porque hoje só falei ainda com pessoas simpáticas que me ajudaram a resolver assuntos pendentes que tinha por aqui. E já falei com pessoas apaixonadas por aquilo que fazem. E com meninos educados. Por isso, o dia está a correr bem e também me apetece ser meiguinha, porque estou a ser bem tratada. Reações em cadeia, estão a ver? Grata pela minha vida e pela vida dos que me são queridos. E pela vida deles fazer parte da minha. E por tudo e tudo e tudo.

quinta-feira, 10 de janeiro de 2013

Tá difícil de entender

Já ouvi dizer que o universo manda-nos mensagens acerca de onde nos devemos posicionar e que lições devemos tirar das coisas que nos acontecem.
Eu já percebi que o universo quer que eu permaneça em casa e, de preferência, isolada de tudo e de todos. Só ainda não percebi é porquê... dá para explicar melhor, mas de forma meiguinha, please? É que também já ouvi dizer que se não aprendemos à primeira, as "explicações" vão sendo cada vez mais duras... mas sou lerdinha, lerdinha por isso, não me leves a mal, universo, mas não tou mesmo a chegar lá...

sexta-feira, 4 de janeiro de 2013

O grande objetivo para 2013

O meu grande objetivo para 2013 é ter objetivos. Estou a trabalhar nisso com afinco, mas não está fácil.

Ano novo, tudo velho

Pois. O ano começou aqui em casa. Com marido, filhas, pais e mana. Comidinha, bebidinha e lareira acesa, o que dá sempre um aconchego diferente. Já nem me lembro da última vez em que foi emocionante o passar do ano. Mas houve muitos anos em que esperava pela noite de 31 de dezembro com muita ansiedade e planos. Preocupada com a roupa a vestir, os sapatos a calçar. Preocupada com a ida à cabeleireira e com essas banalidades todas. Íamos em grupo, para a Greeny ou para a Fénix, às vezes juntávamo-nos em casa de amigos e eram noites inteiras a dançar e a suar. Houve ocasiões em que o grupo só se separava depois da missa das 7h00, à qual íamos diretos, da discoteca. Hoje, só de pensar nisso, dá-me arrepios... a velhice é lixada mesmo.