sexta-feira, 20 de maio de 2011

Crónica número 12

Aborrecem-me as pessoas que fazem asneira atrás da asneira mas que se acham uns eternos coitadinhos. Fazem tudo para se meter em encrencas, problemas, conflitos mas depois acham que a vida é uma madrasta, que são umas vítimas da sociedade, que ninguém lhes dá uma segunda, terceira ou décima oportunidade. No olhar atento desta gente, mereciam sempre uma oportunidade adicional, porque toda a gente erra. E eles têm uma desculpa: só erram porque os outros os levam a errar, motivados por uma ira que nunca conseguem explicar, porque eles nunca fizeram, pelo menos deliberadamente, alguma coisa de mal. Se o fizeram (o que lhes custa muito a admitir), é porque houve alguém, que os levou a esse comportamento. Porque das suas entranhas só saem pensamentos sãos, amor, felicidade, compaixão e coisas lindas. Até as palavras que saem das suas bocas são lindas. Fazem tudo para merecer a pena dos outros, levam os mais desprevenidos às lágrimas, com a sua sucessão de histórias de perseguições maléficas que transformam as suas vidas num inferno.
Mas mais do que os coitadinhos – que me aborrecem bastante – aborrecem-me também as pessoas que os alimentam. Não no sentido real da palavra, se bem que alimentá-los com um papo muito seco talvez fosse uma boa ideia para os calar de vez em quando. Mas, neste caso, falo que quem lhes alimenta este chorrilho de desgraças, como quem deita achas para uma fogueira. Esses irritam-me ainda mais. Se estes não existissem, os primeiros secavam, ficavam a falar para si e, mais tarde ou mais cedo, tinham que se fazer à vida.
Sim, porque, aqui para nós, não é coitadinho quem quer. É coitadinho quem pode. Eu, de vez em quando, também me acho e até me chego a sentir mesmo uma coitadinha. Só que como ninguém me dá crédito nenhum, ala de levantar o sim senhor da cadeira e ir à vida, que já se faz tarde. Outros dão-se ao luxo de ir apenas acrescentando desgraças em cima de desgraças, num novelo maior que uma telenovela mexicana. E, tal como acontece com estas, também na vida real há muitos espectadores e, pior ainda, admiradores deste modo de vida.

terça-feira, 17 de maio de 2011

Crónica número 11

Não preciso de muito para me sentir feliz. Ouvir uma música que já não ouvia há muito tempo; ouvir as minhas filhas a rirem-se; esfolhar álbuns de fotografias; ouvir alguém a contar histórias que me englobam também; estar com a família e com os amigos; ouvir boas notícias; experimentar coisas novas; ler livros; beber um galão e comer um pão com manteiga. Estar feliz, para mim, é estar nas nuvens e usufruir desse momento, sem pensar em mais nada. Sou feliz em vários momentos durante um dia e isso é, de facto, uma bênção, principalmente quando olho para o lado e vejo tudo tão descontente.
Li algures que devemos olhar mais para o que temos e menos para o que nos falta. E fico feliz quando reparo que o que tenho é tudo aquilo que não se pode comprar! Uns pais maravilhosos, uns irmãos excepcionais, um marido cinco estrelas, umas filhas encantadoras, saudáveis e lindas (sim, tiram-me do sério vezes sem conta, mas não sou nada sem elas), afilhados maravilhosos, uns sogros do melhor, uns cunhados e cunhadas que muito estimo, uns sobrinhos adoráveis, já para não falar da família mais alargada de primos e primas, tios e tias e todas essas pessoas com quem convivo com menos frequência mas a quem sei que podia recorrer sem hesitações. Para além deste rol, tenho ainda os amigos, a tal família que se escolhe e que eu soube, um dia, escolher a dedo (e ainda não fechei a lista, estou sempre à espera de mais!). Alguns conheço há décadas, outros são mais recentes, outros vieram atrelados aos amigos e tornaram-se amigos também. Uns são mais positivos, outros mais cinzentos, outros mais disponíveis, outros mais divertidos. Todas estas pessoas constituem, para mim, um património de valor incalculável, pessoal e intransmissível. Sou feliz quando penso nisto.

segunda-feira, 16 de maio de 2011

Mais uma dose

Afinal a ressaca não foi longa, pois tive mais uma dose de trabalho. Uma semana muito agitada mas também muito bem passada. Agora é tempo de voltar à rotina e a rotina inclui, também, escrever aqui com mais frequência!

segunda-feira, 2 de maio de 2011

Admiração

Admiro as pessoas que, não obstante a sua elevada idade, preservam a capacidade de se deixar surpreender. Pessoas que apreciam o momento, que são gratas por coisas simples, que se deixam amar, que não guardam mágoas, que encaram a vida com otimismo, que continuam a ter projetos. Que vibram com as coisas como se acontecessem pela primeira vez, porque têm consciência que, não sendo as primeiras, podem ser as últimas e há que vivê-las com intensidade e carinho. Pessoas que não destilam palavras amargas, que fazem a festa e apanham as canas, que ficam felizes e não têm pejo de mostrar essa felicidade. Quando for grande, quero ser assim.

Ressaca

Estou a ressacar. Estive envolvida, nos últimos dois meses, num trabalho intenso. Mergulhei num mar de papéis, tive a impressão, por alguns momentos, que não vinha mais à tona, mas lá consegui sobreviver. Pelo meio ficaram várias comemorações atípicas - Páscoa, Dia da Mãe e outras. Nessa onda de trabalho, tinha a certeza de que quando este acabasse, lhe ia sentir a falta. Acontece-me com frequência, do género António Variações (estou bem, onde não estou). Quando estava com trabalho até aos olhos, só esperava que chegasse o momento em que este acabasse. Agora que acabou, sinto-me toda partidinha. Estou a ressacar.