sexta-feira, 19 de abril de 2013

Uma infância espetacular

Tive uma infância super feliz. Cresci num aglomerado habitacional (não se diz bairro, que é feio), numa altura em que os vizinhos se conheciam pelo nome, pediam favores uns aos outros e partilhavam segredos, festas e pequenos-grandes dramas. A escola, ou era toda de manhã ou era toda à tarde e, por isso, grande parte do tempo estava disponível para brincar. Gostava de ir para a escola, se bem que os nervos, às vezes, apoderavam-se de mim. Tive sempre a mesma professora, do primeiro ao quarto ano (não se diz classe, que é feio). Esperávamos por ela no recreio, que não era vedado, e quando a avistávamos diziamos: "Lá vem a nossa senhora!". Ou então: "Lá vem a D. Rosinha". A professora não podia gritar comigo, porque eu chorava muito. E também não podia gritar com os outros, porque eu chorava muito (o descontrolo dos outros sempre me fez confusão). Só não gostava de ir de boleia, porque chegava sempre tarde e os meninos que chegavam primeiro já tinham escolhido os lápis grandes. Passo a explicar: os lápis, no final de cada aula, eram colocados numa caixa de sapatos. No outro dia, cada aluno tirava um lápis qualquer. É claro que os primeiros a chegar tiravam os lápis maiores e, quando eu chegava, já não havia lápis grandes, tinha que me contentar com os pequenos. E eu achava aquilo uma injustiça, porque havia meninos que não trabalhavam nada e tinham um lápis enorme e eu, que era tão aplicada, ficava com uma miséria de lápis. Até que um dia, estava tão fula, que decidi partir o bico ao lápis que me tinha calhado em sorte, pois sabia que ele não resistia a mais uma afiadela. O plano era bom, mas a professora deu conta e ralhou comigo. Chorei que me fartei e lembro-me como se fosse hoje. Houve alturas em que a minha mãe me ia levar e buscar a pé (não havia carro). A escola não era tão perto quanto isso, distava talvez um quilómetro ou um pouco mais. Mas durante a maior parte do ensino básico do primeiro ciclo (não se diz escola primária, que é feio) ia e vinha a pé, juntamente com os outros meninos. Levava o lanche numa bolsinha de pano ou numa bolsinha de croché. Tirava os sapatos à entrada da sala de aula e calçava uns chinelos, para não estragar a alcatifa. Não me lembro de ter grandes trabalhos de casa. Lembro-me muito bem da auxiliar de ação educativa (não se diz contínua, que é feio). Chamava-se Marquinhas. A Marquinhas era muito querida para nós e catava as cabeças dos meninos para ver se tinham piolhos. Um dia descobriu que eu tinha lêndeas. Chorei que me fartei. E mal sabia que o pior estava para vir. É que eu tinha o cabelo abaixo do rabo. Chorei ainda mais.
Lembro-me de brincar muito. Não tive nenhuma Barbie, acho que ainda não as havia, pelo menos por estas bandas. Tive uma Tuxa, loirinha. Era uma espécie de Barbie mas mais gordinha e com uma carinha rechonchuda, bastante desproporcional em relação ao corpo (digo eu hoje, com um olhar objetivo, mas gostava muito dela e continuo a gostar, ainda a guardo, mesmo com a cintura colada). Costumava brincar com a Paula e com o irmão, com o Rui. Depois mudaram-se para lá a Márcia e a Sílvia e brincávamos todos. Na maior parte das vezes brincávamos na garagem de casa dos meus pais que chegou a ser uma escola, um cabeleireiro e até a redação de um jornal, o tal que tinha o mesmo nome que este blog. Tinha legos e também adorava brincar com eles. Também brincávamos cá fora, à macaca (as macacas tinham duas formas: uma delas começava com dois ou três quadrados em linha, depois tinha um conjunto de dois em paralelo, depois voltava a ter só um e terminava novamente com dois quadrados. A outra era uma espécie de quadrado gigante com quadrados lá dentro. Não me lembro se tinham nomes distintos). Brincávamos também com o pião, com a mona e, mais tarde, com o elástico e com a corda de saltar. Nunca faltava companhia nem ideias para brincar. Noutras ocasiões passávamos as tardes a apontar as matrículas dos carros que passavam na estrada principal. Não me lembro bem qual era a finalidade, mas juntávamos imensas matrículas. Também ia à mercearia fazer muitos recados para a minha mãe.

terça-feira, 2 de abril de 2013

Mimos

Tenho recebido muitos mimos por causa do meu beijinho que ficou por dar. E é tão bom quando as coisas vêm ter connosco! Bem diz o ditado: "quem encontra sem procurar é porque muito procurou sem encontrar". Gosto desta fase de colheita! Estou muito contente porque hoje só falei ainda com pessoas simpáticas que me ajudaram a resolver assuntos pendentes que tinha por aqui. E já falei com pessoas apaixonadas por aquilo que fazem. E com meninos educados. Por isso, o dia está a correr bem e também me apetece ser meiguinha, porque estou a ser bem tratada. Reações em cadeia, estão a ver? Grata pela minha vida e pela vida dos que me são queridos. E pela vida deles fazer parte da minha. E por tudo e tudo e tudo.