quinta-feira, 25 de novembro de 2010

Abuso de poder

Às vezes ponho-me a pensar no que levará as pessoas a abusarem do seu poder para humilharem as outras. O que as faz falar "do alto da burra" para com os outros que, hierarquicamente, estão numa posição mais abaixo. O que sentirão por dentro? Alegria? Satisfação? Poder? Porque julgarão ter o direito de tratar os outros de maneira agressiva? O que lhes confere o direito de indispor as pessoas? Qual a medida do seu sofrimento? Sim, porque pessoas que agem assim, só podem estar gravemente doentes, feridas, magoadas. Ninguém de bom senso agride outra só porque sim.
Há uns bons anos atrás tive que trabalhar com uma pessoa sistematicamente mal encarada. Já toda a gente se tinha habituado àquelas trombas, mas eu não conseguia, porque não encontrava, em mim, justificação para merecer tal tratamento. No Natal escrevi-lhe um postal a dizer que um dos meus pedidos era que ele sorrisse mais e fizesse as pazes com a vida. Mandou-me chamar. E sorriu perante a ousadia. Gostava de continuar a ser essa jovem, cheia de vontade de mudar o mundo. Mas, sinceramente, já não tenho pachorra. Ou força. Ou ambas as coisas.

terça-feira, 9 de novembro de 2010

É pr'acabar

No final deste mês vou encerrar as contas referentes à venda desta obra-prima da literatura infantil. Por isso, quem quiser adquirir um dos últimos exemplares, faça o favor de se dirigir à Papelaria Ímpar. É uma boa sugestão para uma prendinha de Natal!
Agradeço, desde já, a todos quantos o compraram e mais ainda as palavras de incentivo que me dirigiram. Mas não, para já não está mais nenhum na forja. Já gerei, já escrevi um livro e que me perdoe a Natureza, mas ainda não vou plantar nenhuma árvore. Deixo isso para mais tarde, não vá o diabo tecê-las e achar que a minha missão acabou!

Cheirinho a Natal


A crise, os telejornais, os jornais deixam-nos de rastos. Não há astral que sobreviva a tanto negrume. Deixamo-nos abater e tornamo-nos uns condenados às mãos de uns carrascos. Já não queremos sorrir, nem rir, nem brincar. Só queremos andar com frio, cabisbaixos e a rogar pragas ao governo, ao sistema, aos incompetentes. Vivemos assim há tanto tempo que já não conseguimos ser de outra forma. Ou será que ainda conseguimos? Quem ganha com este nosso ar, soturno e sombrio? Ouço e digo, muitas vezes, que é muito bom sermos pequeninos. E será que não conseguimos, pelo menos de vez em quando, sermos pequeninos outra vez? Nem será preciso recurar tanto... será que não conseguimos voltar, nem que seja por breves momentos, aos tempos de juventude, em que as paixões nos motivavam a acordar mais cedo, a pintar os olhos e os lábios, a vestir uma roupa toda janota? A sentir que tudo era possível, bastava querer com muita, muita força?

A nossa casa já cheira a Natal. Foi uma forma que encontramos de deixar o cinzento lá fora.

terça-feira, 2 de novembro de 2010

Homenagem

A minha tia Rosinha era irmã da minha mãe. Mas hoje acho que tínhamos mais uma relação de avó-neta do que tia-sobrinha. Não sei como é uma relação avó-neta, porque não conheci a minha avó materna e a minha avó parterna morreu quando eu era pequenina. Mas uma relação avó-neta era bem capaz de ser como aquela que eu tinha com a minha tia Rosinha. Ela era linda, com uns olhos azuis como nunca vi outros. Casou tarde, com o meu tio Alberto, que era também uma pessoa muito sui-generis. Não concordava com tudo o que ele dizia e fazia, mas gostava da forma como ele se instruia. Lia, lia muito, sobretudo livros relacionados com a história contemporânea. Às vezes era um cadinho aborrecido, mas enchia uma casa, sem dúvida, com os seus constantes pedidos disto ou daquilo. A minha tia Rosinha lá andava, para trás e para a frente, a fazer-lhe as vontades. Mais tarde reparei que não era só a ele. A minha tia Rosinha gostava de fazer os miminhos todos que podia. Numa ocasião, a minha mãe chateou-se comigo por eu não estar a colaborar com ela na cozinha, para o meu lanche de aniversário. Quem me estendeu os braços? A minha tia Rosinha. "Não chores, não chores, isto passa". É isto que as avós fazem, não é? Depois, já mais velha, fui morar com ela (o meu tio morreu entretanto). Um dia caí na asneira de dizer que já não comia cavalas há muito tempo... bem, a refeição seguinte foi cavalas mas que davam para mais 5 pessoas! Comi, comi, e depois sofri, sofri! Mas a minha tia era assim: ficava feliz quando comíamos tudo o que nos punha no prato. O problema é que isso raramente acontecia, porque ela servia doses industriais! Já muito depois, quando nos vinha visitar a casa dos meus pais, eram sempre fins-de-semana diferentes, gostava muito de a ter cá. Era simples e vivia com simplicidade. Não teve filhos mas criou dezenas de crianças. Um cancro levou o seu corpo daqui. Mas ela e os seus olhos azuis continuam cá. E o seu exemplo de vida também.

segunda-feira, 1 de novembro de 2010

Sem sentido

Hoje, a pedido da minha mãe, fui à missa. E é engraçado ver como mudamos ao longo dos tempos. Tudo aquilo, que me disse tanto durante muitos anos, não me diz absolutamente nada. Fiz a catequese, a primeira comunhão, a solene, a profissão de fé... já jovem, ia a todas, pertenci a vários movimentos, encenei e participei em várias peças e danças sobre Cristo, S. Francisco de Assis, enfim... vivi com muita intensidade a minha fé, defendia pontos de vista, rezava durante horas, cheguei a ir a mais do que uma missa no mesmo dia e hoje, com os olhos de hoje, olho para tudo e não vejo nada. Não encontro a lógica, não encontro o sentido, não encontro a coerência... Fui à missa mas não consegui fazer o que me pediram que era rezar pelos familiares que já faleceram. Guardo-os no meu coração, lembro-me deles muitas vezes mas sei, sinto, que todos estão em paz. Orar por eles, na minha opinião, é lembrar-me do seu exemplo de vida e melhorar a minha atitude perante os outros e perante as coisas. Por isso sinto que oro por eles muitas vezes. E não preciso de uma missa para o fazer.