sábado, 10 de março de 2012

Festival da Canção

A 296 dias do final do ano.

Quando liguei a televisão e vi que estava a dar o Festival da Canção, não pude deixar de recordar o que isto era há algumas décadas atrás. Há algumas décadas atrás, não muitas, isto era motivo para formigueiro na barriga. O serão era planeado em função deste evento, de envergadura nacional. Só para dar uma ideia mais concreta, lembro-me de ter assistido a um destes festivais num café, juntamente com os meus pais, irmã e uma família vizinha. Viemos todos para "O Trem", situado onde se encontra ainda hoje, no largo da estação. Os adultos mandaram vir uns petiscos e ali ficaram, olhos pregados no écran, a assistir e a comentar a cada motivmento. Nós, os mais pequenos, respeitávamos a seriedade da coisa, mas ninguém se importava que não fossemos assim, tão ferverosos devotos. Por isso, eram-nos permitidas umas escapadelas. E para onde íamos nós brincar? Para a estação de combóios, lugar seguríssimo, onde parecia, na verdade, não haver ponta de perigo a espreitar. Brincávamos a saltar nas pedras escuras da calçada, fintando, a custo, as muitas pedras brancas. Meia volta, íamos ao café ver como estavam os ânimos, cada vez mais exaltados, à medida que o programa ia avançando. Das mesas saltavam os nomes dos favoritos, nervos à flor da pele e petiscos no bucho, que, como toda a gente sabe, nervos e comida são grandes aliados. No final, a contragosto, lá se aceitava a decisão dos jurados que votavam a partir da capital de cada distrito. Há 30 anos era assim. Hoje, estou eu aqui, no computador, o meu marido no outro computador e a minha filha mais nova aos saltinhos na sala, a dançar.
Já ninguém se reúne em torno do televisor e ninguém vai brincar para a estação de combóios. Visto assim, já não sei o que é mais estranho: se o Festival da Canção ser um evento nacional, se ser possível 3 crianças brincarem, sozinhas, à noite, numa estação de combóios.

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