quinta-feira, 19 de abril de 2012

Tantos com tanto, tantos com nada

A 257 dias do final do ano.

Há coisas de partir o coração. Uma escola, um desentendimento entre dois garotos, um murro dado num vidro, um vidro partido, uma mão, pequenina, a sangrar. A auxiliar de ação educativa diz ao garoto para ir lavar a mão e, ao mesmo tempo, fala-lhe com carinho: "eu avisei-te X, para não andares à bulha, olha no que deu! Para além de partires o vidro, magoaste-te na mão!" O menino - ali parece um menino, incapaz de fazer mal a uma mosca - diz qualquer coisa que não se percebe. A funcionária começa a fazer-lhe o curativo: desinfeta, põe betadine, prepara a gaze. O menino não diz um ai, parece até que o curativo é uma espécie de mimo... e é. A funcionária diz-lhe para voltar no dia seguinte, sabendo que ninguém vai tratar daquela ferida até ao dia seguinte. Nem daquela, nem de outras. A família - se se pode chamar família a um grupo de pessoas sem laços que vive numa casa - é completamente destruturada. Conta a funcionária, já depois do menino sair, que no aniversário dele, foi ela e a outra colega que lhe deram dinheiro para ele ir comprar um bolo e um sumo ao bar da escola. Conta-me também como ele ficou encantado com aquele presente! No dia seguinte confidenciou às funcionárias o que elas já tinham previsto: em casa não havia bolo nem nenhum sinal de festa. Nem um carinho para se fazer, nem um beijo para se dar.
Uns com tanto e tão ingratos, outros com tão pouco. Besta de mundo, este.

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