Há um tema de conversa que é mais tabú do que aqueles que eram tabús. Hoje, falar de gays, lésbicas e outros assuntos nessa linha das relações é o prato do dia. É mais fácil encontrar pessoas que falem, sem pudor, da sua orientação sexual ou da sua vida íntima, do que encontrar alguém que confesse quanto ganha por mês. Raramente se consegue obter uma resposta objectiva e eu penso que há duas razões para este fenómeno: ou porque se ganha bem de mais para o trabalho que se tem; ou porque o que se ganha é tão vergonhoso que nem ousamos confessar. Ambas as realidades são bastante duras e vamos por partes.
São poucas as pessoas que acham que ganham um salário justo. A esmagadora maioria queixa-se que o dinheiro que ganha não dá para nada, que isto é só mesmo trabalhar para aquecer, que já há muito que não conjugam o verbo poupar e por aí adiante. Só que alguns destes, que se lamentam, têm consciência que ganham acima da média. Por isso, quando se lhes faz a pergunta: "quanto ganhas por mês?" queremos, no fundo, dizer "ó meu sacana, vê lá se paras de te queixar que bem sabemos que te deves afiambrar com umas milenas dele e, se não te chega, é porque gastas à maluca".
Já os outros não dizem quanto ganham porque, na realidade, ainda não interiorizaram que alguém possa ganhar tão pouco. Entre estas duas realidades, há quem tente ganhar tempo na resposta com a contra-pergunta: "limpo ou sujo?", na tentativa de encontrar ali um meio-termo que não choque tanto. Há também quem diga que o seu vencimento não chega aos quatro dígitos e outros que dizem que ganham entre "x" e "y", como se os vencimentos variassem assim tanto por mês. E quem tem a coragem de dizer quanto ganha, atalha logo com a lista das despesas mensais para provar que, no final, fica tão na miséria como o outro que ganha o ordenado mínimo nacional. Na minha opinião, e já que há um ordenado mínimo, também devia haver um ordenado máximo. E, tal como o primeiro, o valor também deveria ser assim, discreto.
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