quinta-feira, 8 de setembro de 2011

Outros tempos

Hoje não pude deixar de pensar em como deve ser triste ser criança nos dias que correm. Quando eu tinha a idade das minhas filhas, nunca ficava um dia inteiro em casa, nas férias, como elas ficam. E tinha sempre amigos para brincar. Havia sempre outras crianças na rua, a propor brincadeiras. Estávamos muito menos expostos a adultos, o que genericamente, é uma coisa boa. Aprendíamos rapidamente quem eram os lideres e quem eram os mais fracos. Éramos criativos, tínhamos muito menos brinquedos e, por isso, inventávamos muito mais. Víamos crianças que tinham mais coisas do que nós e sabíamos gerir isso. Não adiantava vir para casa dizer que o vizinho tinha uma televisão a cores e que nós também queríamos uma, porque ninguém nos ligava três tostões. Aprendíamos, portanto, a gerir a frustração e, no dia seguinte, já nem nos lembrávamos disso. Chegávamos cansados, ao final da tarde, de tanta brincadeira. Ficávamos arranhados, magoados, às vezes também por dentro, mas aprendíamos que tudo isso faz parte da vida.
As minhas filhas não brincam na rua, nem sabem inventar brincadeiras. Raramente vão à rua fazer recados. Não têm arranhões das silvas, não aparecem sujas antes do jantar, as unhas estão imaculadas e não acham graça a nada. Sabem as falas todas dos filmes e dos desenhos animados, ao invés de saberem as regras da macaca ou do elástico. Não batem à porta das outras crianças das redondezas para virem brincar com elas. Para falar a verdade, e exceção feita ao nosso prédio, nem sabem que crianças é que moram aqui na rua. Este tempo tem, sem dúvida, muitas coisas boas mas eu não trocava o meu tempo de criança por qualquer outro de qualquer outra altura.

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