domingo, 11 de setembro de 2011

Tristeza

A escola é, tendencialmente, o emprego de maior duração que temos na vida. Mesmo a correr mal, durante 12 anos temos a garantia de que não há despedimentos nem rescisões, ou seja, sabemos o que nos vai acontecer no ano seguinte. Quantos de nós é que nos podemos gabar dessa estabilidade? A correr muito bem, podemos passar lá mais anos, contando com o tempo da pré-escola e com as retenções que, fruto da crise, também têm limites. E este ponto é engraçado. Segundo ouvi dizer, o aluno, durante o seu percurso escolar e mesmo que seja um calhau com dois olhos não pode ser retido mais do que três vezes. Tudo tem limites e as dificuldades de aprendizagem não são exceção. Repetir anos está bem, mas não é assim à toa!
Analisemos agora as palavras. Hoje nenhum aluno reprova. Fica retido, o que é bem diferente. Ficar retido dá a ideia de que havia uma vontade que não foi concretizada por causa de terceiros. “Querida, vou chegar tarde a casa, estou retido no trânsito”, ou seja, o desgraçado queria muito chegar a horas do jantar mas, por causa das outras pessoas que decidiram circular à mesma hora que ele, não consegue avançar mais depressa.
E, de facto, não vale a pena avançar muito depressa. Um aluno medíocre tem, sobre si, todos os holofotes. Há planos de recuperação, testes e mais testes de recuperação, presta-se atenção ao seu meio sócio-cultural, esmiúça-se a sua vida para encontrar justificações para tamanhas dificuldades e, à falta de melhor, passa-se a criança mesmo tendo a consciência de que ele não sabe nada. Os números falam mais alto e um professor que reprove muitos alunos está lixado. Um conselho de uma amiga: se tiver uma turma de nabos esqueça a tarefa de ensinar e aplique-se em manobras que os mantenha entretidos. O entretenimento faz parte da vida e é tão útil como o teorema de Pitágoras ou ainda mais. Nunca seja exigente numa turma de nabos e tente todos os meios possíveis e imaginários de lhes dar positiva (fazer-lhes os testes está incluído).
Os tempos são de contenção e também aqui tem que ser contido. Numa turma de alunos medíocres, há de haver sempre alguns que não são tão medíocres assim, seja observador! Eleve de imediato esses à positiva e incentive os outros a escreverem corretamente o seu nome. É um passo e, se calhar, o mais importante. Vão ter que o escrever vezes sem conta durante a sua vida. Se fizerem essa conquista, porque não devem passar em frente? A beleza da letra não interessa nada e pode até nem ser perceptível. O verdadeiro artista é aquele que cria.
Se tiver pela frente alunos medianos, não os aborreça nem os esprema em demasia, porque pode dar asneira. Sinta-se abençoado, precisa deles como do pão para a boca. Não vá a pormenores que não interessam nada para o caso, como o bom comportamento. Já não é alegria bastante serem medianos? Atente que é menos uma dor de cabeça na hora de dar notas. Estes alunos têm que ser levados com paninhos quentes, são uma bênção, há que garantir que não resvalam para a mediocridade.
Se encontrar bons alunos não vale a pena ligar-lhes nenhuma e despreze-os até. Quem é que eles pensam que são, a responder bem a tudo e a tirarem sempre boas notas? Pensam que são Deus, é? E não fique com peso na consciência porque se olhar em redor, ninguém lhes reconhece o mérito, a excelência. É verdade que algumas escolas dão-se ao trabalho de lhes atribuir um diploma mas repare que este é sempre entregue sem pompa nem circunstância, assim meio à socapa como que a deixar um recado implícito: “vê lá, ó espertinho, se baixas a crista e se começas a tirar notas mais baixas”. É que no fim de contas, o aluno que tira três a tudo é igual ao aluno que tira cinco a tudo. Passou, está passado. Um e outro. Tristeza.

1 comentário:

  1. eu não diria melhor...triste mundo este...viva a mediocricidade, abaixo a excelência...

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