terça-feira, 2 de novembro de 2010

Homenagem

A minha tia Rosinha era irmã da minha mãe. Mas hoje acho que tínhamos mais uma relação de avó-neta do que tia-sobrinha. Não sei como é uma relação avó-neta, porque não conheci a minha avó materna e a minha avó parterna morreu quando eu era pequenina. Mas uma relação avó-neta era bem capaz de ser como aquela que eu tinha com a minha tia Rosinha. Ela era linda, com uns olhos azuis como nunca vi outros. Casou tarde, com o meu tio Alberto, que era também uma pessoa muito sui-generis. Não concordava com tudo o que ele dizia e fazia, mas gostava da forma como ele se instruia. Lia, lia muito, sobretudo livros relacionados com a história contemporânea. Às vezes era um cadinho aborrecido, mas enchia uma casa, sem dúvida, com os seus constantes pedidos disto ou daquilo. A minha tia Rosinha lá andava, para trás e para a frente, a fazer-lhe as vontades. Mais tarde reparei que não era só a ele. A minha tia Rosinha gostava de fazer os miminhos todos que podia. Numa ocasião, a minha mãe chateou-se comigo por eu não estar a colaborar com ela na cozinha, para o meu lanche de aniversário. Quem me estendeu os braços? A minha tia Rosinha. "Não chores, não chores, isto passa". É isto que as avós fazem, não é? Depois, já mais velha, fui morar com ela (o meu tio morreu entretanto). Um dia caí na asneira de dizer que já não comia cavalas há muito tempo... bem, a refeição seguinte foi cavalas mas que davam para mais 5 pessoas! Comi, comi, e depois sofri, sofri! Mas a minha tia era assim: ficava feliz quando comíamos tudo o que nos punha no prato. O problema é que isso raramente acontecia, porque ela servia doses industriais! Já muito depois, quando nos vinha visitar a casa dos meus pais, eram sempre fins-de-semana diferentes, gostava muito de a ter cá. Era simples e vivia com simplicidade. Não teve filhos mas criou dezenas de crianças. Um cancro levou o seu corpo daqui. Mas ela e os seus olhos azuis continuam cá. E o seu exemplo de vida também.

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