terça-feira, 15 de fevereiro de 2011

Crónica número 10


Há 12 anos atrás, estava eu, mais ou menos por esta hora, a reinstalar-me em casa, depois de três dias de ausência. Nos braços trazia a minha filha mais velha e, também, um mar de dúvidas e muita ansiedade. “Estarei eu à altura de criar esta menina? Saberei dar-lhe tudo aquilo que ela merece e precisa?” Na rua a festa estava instalada. Muita gente, muito barulho, muita animação. Como que a dar as boas vindas a esta vida, acabadinha de nascer. Os dias que se seguiram a este foram repletos de incertezas, tantas quantas visitas e palpites. O leite alimenta ou não? Será que tem xixi? E cocó? Estará com fome? É hora do banho? Deito-a de lado? Dou de mamar de três em três horas ou só quando ela chora? Adormeço-a ao colo ou deito-a logo na caminha e deixo-a berrar até se calar? Tantas dúvidas, tanta insegurança. Os dias deram lugar aos meses e os meses, aos anos. Hoje essa bebé não cabe toda no meu colo, toma decisões, assume responsabilidades, trabalha com afinco e enoja-se com a injustiça. Dá conselhos, volta-se para mim e diz: “gosto de ti”, pede abraços e ri-se com coisas que têm realmente piada. Já lhe disse isto mais do que uma vez e o meu coração repete-o a cada instante: não sei o que fiz para merecer uma filha como esta, mas estou radiante por tê-lo feito.

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