sexta-feira, 11 de fevereiro de 2011

Crónica número 9

Fui ver “A Casa”, um espectáculo de Aldara Bizarro, e adorei. Este espectáculo baseia-se numa série de entrevistas realizadas entre 2009 e 2010, em várias localidades do país. Aos entrevistados, das mais diversas idades e condições sociais, eram feitas três perguntas: Qual o sítio ideal para viver? Como vive actualmente? De que histórias se lembra quando ouve a palavra casa?
Aldara Bizarro pegou em partes dessas entrevistas e produziu um espectáculo muitíssimo interessante, de onde sobressai a diversidade de opiniões, expectativas, gostos, sonhos, objectivos. Um dos entrevistados dizia que gostava de viver no centro de grandes cidades, no centro do barulho e da agitação, mas a sua casa era no sétimo andar, para não ouvir o barulho; outra dizia que gostava de viver num sítio onde não houvesse vizinhos à volta; outro gostava de ter vizinhos simpáticos e por aí adiante.
No espectáculo, a autora abordou também a temática do excesso de zelo em relação às crianças, quando disse que as crianças hoje, não têm espaços para brincar, é tudo muito pequenino e pontiagudo. E de capacete enfiado na cabeça produziu o momento mais hilariante da noite, onde as cabeçadas em tudo e todos eram uma constante, dando mesmo a ideia de estar num espaço muito pequeno ou, numa outra leitura, dando conta de que, mesmo com todos os cuidados e protecções, as crianças acabam sempre por ter que seguir o seu percurso, feito de quedas, cabeçadas, feridas e brincadeiras menos contidas.
O final foi simplesmente magnífico, com os bailarinos a sonharem com uma torre eifel edificada mesmo ali, no Parque de Nossa Senhora da Graça (Ovar). Para o efeito, arrasariam o Centro de Artes, onde estava a decorrer o espectáculo, e construíam a torre, com um aeroporto enorme ali perto, Ovar no centro do triângulo intercontinental – Tóquio/ Ovar/ Nova Iorque. Às vezes sinto-me assim, a sonhar alto, a querer ir mais longe, muito mais longe, muito mais além. Bom, muito bom.

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