sexta-feira, 4 de fevereiro de 2011

Crónica número 8


Arrisco a dizer que não estava um dia tão solarengo como o de hoje mas, na realidade, não me lembro bem. Só me lembro do meu irmão me ter ido buscar à escola, numa acelera, e de ter dito que já tinha nascido o bebé da Lurdes. “E o que é?”, perguntei eu. “Acho que é um menino”, respondeu ele. A desilusão apodera-se de mim. Queria uma menina. Com 18 anos acho que faz sentido poder escolher. Chego a casa, a minha mãe está à porta. “Já nasceu!”. “Eu sei”, respondo. “É um menino, não é?”. “Não, é uma menina!” Fico radiante, entusiasmada, não vejo a hora de ir ver a bebé ao Hospital de S. Paio de Oleiros. Almoço e sigo para lá, vejo aquele bebé tão perfeitinho, adoro a sensação, fico animada quando vejo a mãe da bebé mais animada ainda e com cara de quem não tinha, nem por sombras, passado por um parto. Depois, bom, depois, seguiram-se as emoções todas, possíveis e imaginárias. As primeiras vezes de tudo, a descoberta, a surpresa, a preocupação. (Ó miúda, quando caíste do berço pregaste-nos cá um susto!) E eu ali, presente em todas elas, a viver cada momento, feliz da vida, encantada com aquele estado, madrinha pela primeira vez.
“Maínha, um tá?”, dizia ela - cabelinho ralo e loiro – quando entrava em casa dos meus pais, à minha procura. E eu escondia-me e deliciava-me a ouvir aquela vozinha que chamava por mim. Depois aparecia – com 18 anos e sem grandes responsabilidades, só sobrava tempo para o lado bom da vida – e ríamos as duas, apertadas para sempre em abraços e beijinhos. As festas do ballet, a natação, a escola, tantos passos e tantos centímetros a mais!
Foi há 23 anos, mas parece que foi ontem. Obrigada, minha querida, por me deixares fazer parte da tua vida.

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