domingo, 23 de janeiro de 2011

Crónica número 2

Aquilo que não temos é que é bom. Há oito anos que trabalho por minha conta e acho que o bom, bom, era quando trabalhava por conta de outrem. Só me lembro dos excelentes ambientes de trabalho por onde passei, de ter compromissos, de conhecer gente interessante e ficar a saber de coisas que não fazia a mínima ideia de como funcionavam. Recordo, com saudade, da partilha que a equipa fazia dos saberes que ia adquirindo. Nesses ambientes de trabalho e entre colegas, partilhávamos também experiências pessoais, falávamos das nossas ambições, trocávamos ideias, trocávamos jantares e almoços. E é disto que me lembro e, por isso, tenho muitas saudades do tempo em que trabalhava fora. De comprar uma camisa nova e alguém reparar, de um elogio quando ia ao cabeleireiro ou pintava as unhas.
Mas deixando de lado esta vertente romântica da coisa, havia cenas que eram uma verdadeira chatice, para não usar uma palavra feia. Ter que aturar patrões que não sabiam bem o que queriam, que diziam que hoje gostavam de preto, mas amanhã já gostavam de azul, de reuniões intermináveis que não chegavam a lado nenhum e que atrasavam a hora de saída, de conduzir feita uma doida para ir buscar a minha filha a casa dos meus pais, à hora em que já devia estar a deitá-la, ter que fazer trabalhos que me agradavam pouco ou, pior ainda, não me agradavam nada, ter que explicar que nem tudo o que se aprende nas faculdades é para se pôr em prática, são algumas dessas cenas maradas. Não ter sábados, domingos e feriados, trabalhar, por vezes, sete dias por semana e receber o mesmo, receber depois de todos os restantes colegas eram outras que, vá, causavam-me alguns, vá, digamos que, aborrecimentos.
Colocado tudo na balança, é claro que os pratos ficam desequilibrados e nessa altura digo baixinho “sou uma abençoada”. Mas por baixo destas palavras, como se fossem uma sombra, lá estão elas. As saudades. E sei que, se estivesse num ambiente de trabalho com muita gente, pensaria “que bem que eu estava a trabalhar por minha conta. Podia gerir os meus horários, sem ter que estar a aturar malucos”.

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