quarta-feira, 10 de julho de 2013

A menina dos cabelos de oiro

Após um curto intervalo, voltamos às belas histórias da Coleção "Formiguinha", algumas delas autorizadas pela Comissão de Literatura e Espectáculos para Menores", como é o caso desta. Havia um casal que tinha um casal de filhos e estava, como nós todos nos dias de hoje, a passar dificuldades. Sem meias medidas o patriarca diz à mulher que o melhor é matar uma das crias, pois seria "menos uma boca a pedir pão". Começa bem, não começa? Eu bem avisei!
O miúdo estava ainda acordado, ouviu a conversa, acordou a irmã e puseram-se os dois na alheta. Adormeceram na floresta e logo apareceram três fadas. Uma diz que a menina será a cara mais linda do mundo; a outra dá-lhe umas mãos prendadas e a outra deseja que quando a menina se pentear, caia ouro dos cabelos. Em coro, as fadas gritam para que dos meninos se afastem lobos, ursos "e outros males que pela terra vão". Quando amanhece as duas crianças vão ter a casa de uma velha muito feia que tinha uma filha ainda mais feia. Os miúdos, claro está, são tratados mal e porcamente até que um dia o miúdo precisa de uns sapatos, a irmã escova o cabelo e o puto lá leva o ouro para trocar em tostões. O ourives pergunta-lhe como conseguiu ele o ouro e o miúdo bufa tudo. O ourives conta ao rei a história e os dois, achando que aquilo é uma valente patranha, encerram o miúdo numa torre, cuja janela dá para o mar. Depois manda vir a miúda à sua presença (não teria sido melhor fazer ao contrário? Era só uma sugestão...) A velha, entretanto, decide matar a miúda à fome e sede e esta, já completamente faminta e desidratada, implora por um bocadinho de pão e água. A velha diz que lhos dá mas, em troca, quer os seus olhos!!!! Eu avisei que esta história era das boas! A miúda lá lhe dá os olhos mas entretanto, como a velha recebe a ordem de levar a miúda à presença do rei e não querendo ser castigada, lança a miúda ao mar e vai com a sua filha, fazendo-a passar pela outra garota. Entretanto as fadas deviam estar a nanar porque só agora voltam em socorro da pobre (acreditar em fadas é no que dá! Então onde estavam elas para afastarem os miúdos de todos os males? Promessas, é o que é!) Bem, as fadas lá pegam na miúda e põem-na junto do irmão. Entretanto a pequena pede papel ao carcereiro, faz um lindo ramo onde não faltou o ouro e pede ao carcereiro para o vender por um par de olhos (coisa acessível, não deve ter demorado nada a fazer negócio!). A velha, que entretanto tinha os olhos que sacou à miúda, fica com o ramo e dá os olhos que a própria miúda volta a pôr no sítio (quais cirurgia, quais carapuça!). O rei toma conhecimento de toda esta história e verifica que a miúda que está encarcerada é que deita oiro pelos cabelos. Pergunta qual é o castigo que a menina quer dar à velha e a menina não vai de modas: "quero que da sua pele se faça um tambor e dos ossos uma cadeirinha para eu me assentar". Mai nada! Eu não disse que tínhamos voltado às histórias infantis em condições?

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