sexta-feira, 19 de julho de 2013

Os sete encantados

Voltamos às grandes histórias da Coleção "Formiguinha"! O início é um clássico: uma miúda vive com a sua avó e são pobres que até doi. Mas muito asseadas! A avó borda e a miúda vai para a rua vender os bordados. Um dia a avó faz uma gola bordada a ponto de cruz e diz para a miúda a vender por três moedas de prata. A tarefa é difícil, como é bom de adivinhar. Cansada, a moça acaba por entrar num rico palácio, encontra três moedas de prata, gama-as e deixa lá a gola. Mas quando vai a sair encontra as portas fechadas. E para o que é que lhe dá? Para começar a limpar e a varrer! (É mesmo a primeira coisa que ocorre, não é? Entro num sítio, quando vou a sair vejo a porta fechada e... Ah! já sei! Vou começar a fazer limpeza!)
Continuando: à meia noite levanta-se muito vento e um coro brada: "Benvindo seja quem, com os sete encantados, houve tamanhos cuidados". Os sete encantados comem e bebem à fartazana, ainda pedem à cachopa para lhes lavar a cabeça (?). Esta satisfaz o pedido e eles dizem-lhe que, mal pare a ventania, ela deve colocar a gola e pôr-se à varanda, que terá sorte. Mas não deve aceitar casamento sem antes consultá-los. A miúda faz o que lhe mandam e um rei, que mora em frente, diz-lhe: "Ó menina da gola, quer mudar de gaiola?" (?) A rapariga consulta os "irmãos" que lhe dizem que ela deve casar-se mas não pode voltar a abrir a boca sem que o rei diga, primeiro, "Pelos sete encantados". Está tudo muito bem, mas o rei não gosta da rapariga muda (seria a alegria de tantos, uma mulher assim, caladinha! Bem se diz que Deus dá nozes a quem não tem dentes). E então fecha-a num quarto e, esquecendo-se dela, casa com uma princesa. (Entretanto a avó deve estar a criar teias de aranha, à espera da moçoila). E é aqui que a coisa anima. Uma criada diz ao rei que a legítima corta a cabeça, penteia-a no regaço, e volta a colocá-la no lugar. A princesa, acabadinha de casar, ouve aquilo e, não querendo ficar atrás da legítima, zás, corta também a cabeça mas "morreu logo". (Logo, logo? Não ficou ainda a esbracejar um bocadinho, como as galinhas?) O rei fica muito triste e, para recuperar, casa com outra moça. A criada volta a fazer das suas e diz ao rei que a legítima, quando fia e lhe cai o fuso, corta a mão, que logo o vai apanhar e torna depois a colocar a mão no seu lugar. (WTF?) A segunda (diz o livro, porque pelas minhas contas é a terceira) esposa do rei, ouvindo isto, corta a mão "e morreu dentro em breve, mercê da infecção sobrevinda" (Sim, que fiquem bem claras as causas da morte, que isto de cortar a própria mão não causa a morte a ninguém. Não fosse a porcaria da infecção, ainda hoje a jovem estava aos pulos, feliz e contente). O rei, inconsolável, vai pedir conselhos à mãe que lá se lembra de lhe dizer para ele pedir pelos sete encantados. O rei assim faz e a miúda responde-lhe: "Doravante falarei pelos cotovelos, pois Vossa Majestade já aprendeu". Mas aprendeu o quê? Como é que o pobre se havia de lembrar de pedir alguma coisa "pelos sete encantados"? A história termina por aqui, mas eu acho que o rei arrependeu-se pela vida de seguir os conselhos da mãe...

Sem comentários:

Enviar um comentário