sexta-feira, 12 de julho de 2013

O tesouro do ceguinho

Ora aqui temos finalmente uma história que podiamos contar às crianças de hoje, sem que estas tivessem que ir a correr, traumatizadas, para o psicólogo. Esta história, se fosse escrita hoje, teria como título "O tesouro do invisual" e contaria, na mesma, a história de um ceguinho que pedia às portas das igrejas e nas festas, amealhando, assim, bom dinheiro. Esse dinheiro era colocado numa panela (esperto, o ceguinho, não queria nada com a banca e era o que ele fazia melhor) e enterrado debaixo de uma figueira (se calhar no buraco que ficou aberto quando desenterraram a miúda da outra história). O grande problema é que o ceguinho ia frequentemente fazer os seus depósitos, o que despertou a atenção de um vizinho que, depressa, foi lá e gamou o dinheiro todo. O ceguinho, quando voltou à panela, encontrou-a vazia e logo desconfiou do vizinho, por não haver por ali mais ninguém. (Não primavam pela esperteza, os dois). Mas o ceguinho não entra em pânico e trata é de pensar num bom plano. Assim, vai a casa do vizinho da figueira e diz-lhe que tem andado a juntar dinheiro e que estava a pensar deixar-lho, quando morresse, por ele ser tão bom vizinho. E acrescentou que tinha mais dinheiro, noutro buraco e que, um dia, juntaria esse ao dinheiro que estava na panela, debaixo da figueira. O vizinho, ao ouvir estas palavras, apressa-se a pôr a panela e o dinheiro no sítio onde estava. "Os tempos iam de careza, e o que roubara mal chegava para fazer uma casa", diz no livro. "Agora, se ele fosse mais um bocadito, isso sim, daria para viver à tripa forra, gozando cama de molas e colchão de sumaúma, boa mesa e outros luxos". Bem, aqui teria que se fazer uma adaptaçãozita, pois estes bens materiais não dizem nada às crianças. Seria melhor substituir por: "daria para viver à grande e à francesa, gozando de boas férias nas Caraíbas, de um plasma de 5x4m, de um Ipad, Ipod, Playstation último grito, MP6, tablet e outros luxos". Está visto que o ceguinho foi logo lá buscar a panela com o seu tesouro e, depois, passou por casa do vizinho dizendo-lhe, muito desgostoso, que a panela tinha sido roubada. Eu sei que sabe a pouco, mas a história é mesmo só assim: não há porrada, ninguém escarranchado, ninguém enterrado, ninguém tira os olhos para pagar um pouco de pão e uma pinga de água e ninguém é esfolado. Pode ser que amanhã isto anime. Bons sonhos.

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