sexta-feira, 5 de julho de 2013

As caras trocadas

Confesso que esta terceira história deixou-me algo desiludida... há pouca emoção e, pior do que isso, ninguém é enterrado vivo. Era um estilo a que já me estava a habituar e que foi abruptamente interrompido... vamos lá ver se a quarta história repõe a adrenalina.
Bem, esta é a história da Cinderela, mas mais mal amanhada, diria eu que é a história da Cinderela para pobres. Temos mais uma vez um viúvo que tem uma filha, linda de morrer e que casa com uma mulher, de quem tem outra filha, mas feia que nem um bode (não sou eu que digo, é o senhor que adaptou o conto e que se chama, ou chamava, João Sereno). Tenho que fazer aqui um parêntesis (é o que dá a história não ter ponta por onde se lhe pegue) para dizer que, no fim, alguns destes livros (suponho que os mais antigos) dizem assim: "Autorizado pela Comissão de Literatura e Espetáculos para menores". Ficamos a saber que isto das Comissões para tudo e para nada já não é de hoje. Há décadas atrás existiu, como os livrinhos comprovam, uma Comissão de Literatura e Espetáculos para menores, com um bom senso desgraçado, bem se vê. Há coisas, de facto, que nunca mudam.
Mas vamos ao que interessa: a esposa do viúvo tratava muito bem a filha de ambos e mal e porcamente a enteada. Um dia mandou as duas guardar uma vaca e deu à filha um lanche do melhor e à enteada uma "bolorenta côdea de broa". Apareceu, entretanto, uma fada que pediu algo para comer. A filha virou-lhe a cara e a enteada partiu logo ao meio a sua côdea. Permitam-se que discuta aqui a bondade genuína da enteada... é certo que deu o que tinha mas... uma bolorenta côdea de broa? Quem não gostaria de se livrar dela? Bom a fada achou o gesto muito bonito e, como estávamos numa altura em que os bons eram premiados e os maus castigados (isto deixou-me nostálgica... já não via disto há muito tempo...) trocou as caras das cachopas. Ao chegarem a casa, a mãe pensou que a giraça era a enteada e fechou-a na cave e à outra deu-lhe mimos e mais mimos. Depois entra na história um príncipe, como não podia deixar de ser, e tomou-se de amores pela enteada a quem a fada tinha restituído a beleza, às escondidas da madrasta. A giraça casa, a madrasta quando a vê "teve um chilique" e "segundo consta", mãe e filha "rebentaram então de inveja". Não há pessoas enterradas vivas mas há duas que rebentam... e, tendo em conta a violência das histórias anteriores, fico na dúvida se este rebentamento é uma metáfora ou se é mesmo um rebentamento.

1 comentário:

  1. ahahah
    faziam tanta falta umas fadas destas...acho que ajudariam a resolver montes de problemas

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