quarta-feira, 3 de julho de 2013

A menina e a figueira

Inicio, hoje, uma nova rubrica neste blog. Tudo porque ontem me deu para andar aqui a vasculhar caixas e descobri uma, com livros da famosa coleção "Formiguinha" lá dentro. Estes livros, aparentemente inofensivos, explicam muita coisa. Foram lidos por várias gerações, incluindo, com toda a certeza, pela geração que nos governa.
Começo pela história intitulada "A menina e a figueira". O título é bonito, é brando, nem faz suspeitar do que encontraremos lá dentro. O texto começa logo sem meiguices, para não iludir ninguém. "Nosso Senhor levara para junto de si a mãezinha de Rosalinda". Pumba. Mai nada. Logo uma morte para verem quem é que manda aqui e para descobrir quem os tem no sítio para continuar a leitura. Ora a Rosalinda fica órfã de mãe, o pai apressa-se a arranjar mulher e esta não é o que parece. Na frente do marido é toda mesuras, mas por trás trata a miúda do piorio. Uma das tarefas que lhe dá é que esta guarde uma figueira, para que nenhum pássaro roube os figos. O que vem a seguir, não tem qualquer conotação política, mas é o que lá diz. Aparece um coelho que distrai a menina e vem um pássaro, nesse entretanto, e leva um figo. A madrasta fica doida e enterra a menina viva, deixando-lhe, apenas, os cabelos de fora (?). O coelho AJUDA (sim, no livro o coelho ajuda a menina, fazendo um túnel até ela por onde lhe leva comida e bebida para que a menina "ficasse comodamente instalada"). De realçar que já naquela altura a noção de comodidade por parte dos coelhos era bastante desajustada da realidade). Bem, entretanto chega o pai da moça, toma conhecimento do desaparecimento da filha, junta-se um príncipe à mistura, o pai vai cortar feno para o burro do príncipe (sem querer insultar o príncipe) e, como era de noite, agarra nos cabelos da filha a pensar que era o tal feno. A miúda grita uma cantilena, os dois apercebem-se que é a garota desaparecida e desenterram-na. A miúda chiba-se toda, eles perguntam que castigo quer ela para a madrasta e ela, como era "boazinha" (mais para o burra mesmo) diz que quer que a madrasta fique a guardar as figueiras dos jardins do palácio. Vai daí o príncipe "sem demora pediu a Lourenço a sua mão" (não fica claro se pediu a mão da miúda ou do próprio Lourenço podendo dizer-se, por isso, que a discussão sobre o casamento entre pessoas do mesmo sexo foi iniciada há décadas.
Depois disto tudo, acreditam que as gerações que leram isto podem ser normais?

1 comentário:

  1. Ai o que eu já me ri com este texto...mas digo-te desde já, que li esta colecção e considero-me uma pessoa normalíssima!!...eheheh...é certo que alguns destes contos sempre tiveram um quê de sinistros e assustadores; cheguei a sonhar com eles, embora ainda tenha a colecção guardada...acho que foi a partir do momento em que li esta colecção que comecei a gostar de filmes de terror :P só tenho a dizer; muito bom o texto srª jornalista; diverti-me bastante a lê-lo!...beijinhos*

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