quinta-feira, 4 de julho de 2013

As três maçãzinhas de oiro

A história de hoje tem algumas semelhanças com a de ontem, já que há também uma criança que é enterrada viva, se bem que está menos viva que a Rosalinda de ontem, o que pode ser uma atenuante. Bom, esta é a história de três irmãos, um lindo de morrer (olhos azuis, cabelo loiro e faces rosadas) e outros dois feios e invejosos. O bonitão é pastor (trabalho infantil) e quando vai guardar as cabrinhas vê uma macieira, carregada de maçãs e apetece dar uma trinca (raios partam as maçãs e os humanos! E o povo ainda se admira que eu não goste de fruta!) Como, para além de ser um gato, tem princípios sólidos, não rouba as maçãs e vai à sua vida. Já na serra, aparece uma fada que lhe dá três maçãs de oiro! Nos dias de hoje, o puto tinha deixado as cabras e tinha ido logo à Ourivest trocar aquilo em patacos. Mas, na altura, guardou o tesouro que o salvava (a ele ou a qualquer outro proprietário) da morte. Só que pelo caminho os irmãos viram o tesouro e como o primeiro não lhe deu nada, eles bateram-lhe e deixaram-no como morto, tendo-o enterrado depois. De salientar que não conseguiram gamar as maçãs, porque o miúdo, mesmo moribundo, agarrou-as com unhas e dents. Ontem, a miúda, se bem se lembram, ficou com os cabelos de fora; hoje nasceu uma cana no sítio onde o miúdo foi enterrado. Ora essa cana, quando foi cortada, falava e resumia a história do miúdo. A gaitinha passou, literalmente, de boca em boca (que porcaria), até que foi parar, e agora têm mesmo que prestar atenção, "aos beiços" dos pais do garoto! "Beiços" é giro, não é? Os pais, espertos, viram logo que era a história do filho, foram ter à campa e hoje, tal como ontem, o miúdo estava vivo! Deu as maçãs aos pais, estes viveram até se cansarem da vida e quando já estavam fartos deram as maçãs ao filho para poderem morrer (é que com as maçãs na sua posse, nunca mais iam desta para melhor, lembram-se?). O puto fez a mesma coisa para com o seu filho. "E depois? Morreram as vacas, ficaram os bois". Já fazia falta uma alusão à morte. Ainda bem que a história tem este final. Mas esta mania de andarem a enterrar toda a gente começa a ser um bocadinho incomodativa, não?

1 comentário:

  1. Ainda bem que os contos actuais são bem mais educativos e pelo menos muitos deles incentivam aos afectos..."O beijinho que ficou por dar" seria um sucesso bem maior naquela época; ou então ninguém entendia o conteúdo da historia, habituados a tantas maldades e tantas mortes...ahahah!!...

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